A cal escorria-me dos olhos azuis de
tanto céu e transformava-se
em manchas doiradas ao poisar no chão.
O verde dos vinhedos
coloria-me o vestido e mesmo as mãos lembravam
acenos da paisagem.
A terra tisnada num reflexo de tempo, de sol,
abria-se à procura de ar
ou de água que mais abaixo murmurava suave.
Ribeiro, não,não era.
Antes uma fita ondulante e musical a refrescar a tarde,
rasgada apenas pelo som das cigarras. Pássaros não os havia
àquela hora de calor. Perto da pequena nascente
o zumbido atordoante
das abelhas, numa reminiscência de mel.
Foi há muitos anos, tão longe daqui. Quase duvido ter sido eu
a presenciar tal imagem da vida.
Não uso vestido rodado nem rodopio a cantar,
mas sei que dentro de mim existe ainda,
embora não saiba bem onde,
essa que nos dias meninos olhou e viu.
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