LISBOA
Lisboa tem olhos verdes
que incolor pássaro trouxe
das arestas da poeira
descobertas no instante.
Os olhos escureceram
depois tornaram-se azuis
de vozes que nós fiaram
entre poemas perdidos.
O som distante do cravo
entreaberta janela
onde se imprimem as pautas
de palavras que se perdem.
é no traço retilíneo
de inventar gestos de fumo
que os olhos tornam-se verdes
a neutralizar o rumo.
Esboço ténue da ideia
onde a palavra perverte
o fundo que nela ondeia
no vertical da maré.
Há olhares que dissimulam
harpejo esférica estrela
mas dentro dela procuram
a circular forma branca.
Lisboa tem olhos verdes
numa ode giratória
afunda-se sol azul
a perfilar a memória.
Mas quando a sombra descai
na cidade que é mulher
há o grito lancinante
duma criança a nascer.
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