Nunca
Nunca os sonhos foram em demasia,
nunca o voo do albatroz foi excesso
sobre o mar,
foram limite.
Nunca o amor coube num ramo de rosas
ou no olhar entristecido de Frida Khalo,
mesmo que soubesse dos devaneios
do seu sempre amante e louco Rivera.
Nunca um solo de trompete de Davis
fez esquecer as noites encantadas de Paris,
quando Gréco nos seus beijos adormecia,
e o existencialismo era filosofia de vida.
Nunca Samuel Beckett esperou deveras Godot,
ironia amarga entre o tudo e o nada onde esperar
é apenas e no final luta pela sobrevivência.
Nunca Hemingway esqueceu a guerra e por isso
se matou numa ilha,
sabendo sempre Por Quem os Sinos Dobram.
Nunca ninguém pintou a realidade e a fantasia
como nos azuis surrealistas só de Chagall,
onde Bella esvoaçava em constante movimento.
Nunca esqueci Tristão e Isolda, Pedro e Inês,
nem a tragédia de todos os amores suicidas.
Nunca ninguém escreveu versos tão pungentes
como Al Berto que de sofrimento crónico padecia.
Nunca foram tão tristes os meus olhos marítimos
quando apenas avisto canteiros vazios de malvas,
navios fantasmas paralisados nos meus braços
que outrora foram enchentes de bravios rios.
Nunca os sonhos foram em demasia
sempre foram caminho que se fez rasgando,
decifrando códigos trancados por mistérios,
chaves de utopia guardadas em longas asas
de voos gigantes continuamente procurados.
Sem comentários:
Enviar um comentário