Se fosse sonho e tivesse asas
Há dias em que a solidão
tem o peso dos passos
na casa vazia,
que me baste
neste sofrimento por vezes
quase desejado,
que lentamente devora
a mudez das palavras
e me seca a poesia.
Há dias em que o ruído
que trespassa as vidraças
me faz sentir ainda mais
triste e sozinha,
sem saber o que faça
deste cansaço matinal
onde nem a saudade cabe.
Deambulo por entre memórias
mas é tal o estado de torpor
que tudo é sem jeito,
sem início ou propósito,
apenas passos contados
na imobilidade do pensamento.
Repousam os livros sobre a mesa
escritos noutras horas,
noutros tempos,
poemas que foram meus outrora,
que ganharam vida e partiram,
não os reconheço agora,
são versos estranhos nascidos
como rosas com espinhos
num jardim por mim inventado.
Os pássaros partiram há muito,
o mar ficou cada vez mais longe,
o azul esqueceu-se nos meus olhos,
as árvores desnudas sentem frio,
os poetas mordem as palavras
e choram o suicídio do Mundo.
Meu amor,
diz-me que ainda há flores,
rios bravios a descer a serra,
bosques onde se beijam amantes,
descoberta de mágicos oásis,
vida nos ventres de mulheres
que provaram mel e alecrim,
cânticos de novas primaveras,
ventos de renovada esperança.
Meu amor
diiz que me amas como se eu
fosse sonho e tivesse asas.
Teresa Veludo
O Meu Rio sem Margens
(Direitos reservados)
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