O PASTOR
O velho trémulo
de frio caiu
entre o rebanho
está tão mudado
há tanto tempo
subindo o prado.
No lar família
aconchegada.
A voz da Emilia
também cansada
espera o pastor.
Longa jornada
desde o nascente
ao sol a por.
A noite avança.
Uma criança
chora no berço.
Ao canto, só
a velha avo
reza seu terço.
Um vago medo...
pressentimento?
Quem o dirá;
a noite cedo
fecha o segredo
escurece já.
O pastor não vem
ouve-se alguém
pedir ajuda.
A avo triste
no escuro assiste
que povo acuda.
ei-los em bando
trevas trepando
na serrania
na voz do berço
sobe a do terço
em agonia.
O pastor caído
sem um gemido
regela agora
só o latido
do cão amigo
vai noite fora.
Como sinal
se ouve afinal
o cão ao longe.
No matagal
o povo acorre
como quem foge.
Erguem do solo
levam ao colo
para seu lar.
Ouve-se Eolo
por toda a serra
em frio uivar.
Chegado a casa
à lareira em brasa
é posto ao pé.
Chora a família
geme a Emilia
que morto o vê.
Insana lida
apenas vida
magro sustento!
Na despedida
na voz do cão
uiva a do vento.
Fim do cansaço
gélido abraço
o pastor estreitou.
Descai-lhe o braço
parou o passo
já descansou...
A pobre herança
de quem se cansa
a trabalhar
é a criança
na mesma dança
que irá girar.
Tanto trabalho
desaconchego
tanto labor...
eterna bulha
pra encher a tulha
ao lavrador.
Marília Gonçalves
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