Realidades
Despertar e cair no pesadelo
as pombas transformadas em falcões
levadas no atropelo
as marés das ilusões.
Quantos eram?
quantos foram?
na forma de quase deus
mas não há deus que resista
à descrença e ao adeus...
as aves foram perdendo
toda a plumagem que tinham
e em meus olhos doendo
da mentira que adivinham
um após outro se foi
num mar que lembrava sangue
nesta verdade que doí
como se a arquitectura
dum edifício cedesse
e só ficasse lonjura
na minha incrédula prece.
Tanto sonho que caiu
tanto olhar que se baixou
tanto cântico ruiu
tanta pétala murchou.
Mas nada torna ao que era
agora é pra sempre Inverno
cada pomba uma quimera
veio morrer no meu caderno.
Marília Gonçalves
ADEUS
O braço levantado e acenando
lembra asa de pomba
que mansa, muito mansa vai voando.
Há nesse gesto brando
o ai dorido
tanta suavidade
tenta mansidão
que nos faz mais efeito
esse gemido
que o maior trovão.
Marília Gonçalves
há coisas que só os próprios podem destruir
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