A pátria é nos lugares onde a alma está acorrentada.
Voltaire
Quem abriu a mala de Pandora para que em simultâneo quase, tantos males, tanto sofrimento assole o Mundo?
Começando por HAITI, inexplicável terremoto, cuja causa obscura está ainda por decifrar,
mas de trágicas consequências, que se prolongam no tempo, com as chuvadas a agravar a vida nas tendas improvisadas, onde a fome visita as vítimas a cada hora!
Talvez um dia consigamos compreender o inexplicável que os próprios cientistas não compreendem bem
Começando por HAITI, inexplicável terremoto, cuja causa obscura está ainda por decifrar,
mas de trágicas consequências, que se prolongam no tempo, com as chuvadas a agravar a vida nas tendas improvisadas, onde a fome visita as vítimas a cada hora!
Talvez um dia consigamos compreender o inexplicável que os próprios cientistas não compreendem bem
Prossigamos pela nossa Pérola do Oceano, A Madeira
correndo o mundo catástrofe apôs catástrofe
só vimos dor e desolação.
o Chile com o horror destrutivo do terremoto é ainda atingido pelo Tsunami. E quantos países se vão seguir?
Portugal magoado, desolado, interrompido de norte a sul,
terras já pobres, arruinadas pelo abandono,
quem lhes acudirá e àqueles que com parcos meios, tal como na Madeira
mal vão saber como reconstruir as casas onde viviam se o pavor da Ilha da Madeira se repete? ou não poderão mesmo construí-las de novo!
Apetece-me gritar, mas nem posso ir para a rua, também aqui a tempestade aperta forte, minha voz ficaria perdida na voz dos ventos e aqui vou gritando neste silêncio da escrita...
e blasfémia que seja, grito contra esse deus, que deixa ruir as casas dos pobres e deixa morrer os indefesos, enquanto os ricos permanecem ao abrigo de todas as fúrias, de tempestades e intempéries em casas fortes e luxuosas! A Minha dor pelos povos é neste momento muito maior que eu, porque este rasgão que me vai por dentro de tanto ver sofrer pode levar-me aos confins de qualquer revolta!
e blasfémia que seja, grito contra esse deus, que deixa ruir as casas dos pobres e deixa morrer os indefesos, enquanto os ricos permanecem ao abrigo de todas as fúrias, de tempestades e intempéries em casas fortes e luxuosas! A Minha dor pelos povos é neste momento muito maior que eu, porque este rasgão que me vai por dentro de tanto ver sofrer pode levar-me aos confins de qualquer revolta!
Chega! podres senhores detentores da vossa própria segurança, do bem-estar dos vossos filhos.
E a dor alheia, toda essa aflição que vai pelo Mundo, sois vós os seus maiores responsáveis! talvez dos terremotos não tenhais culpa, (talvez), mas sim das agressões permanentes à Natureza, procurai vossa culpa na ganância que vos habita, nessa sede infinita de ter cada vez mais! e para quê?
Para dominar o Mundo! e o mundo do trabalho, reduzindo a escravos do vosso mal querer, Homens produtivos e úteis, enquanto vós não passais de répteis ou de parasitas!
O vosso excesso causa-me nojo, náusea!
Que tendes de um Ser Humano que vos alimentais de vossos semelhantes?!
Porque se julgam tão sábios e poderosos têm andado a brincar ao aprendiz feiticeiro, tocaram em forças para vós desconhecidas e a Natureza cega, vinga-se sobre os inocentes!
Mas um dia para a Natureza chegará vossa vez!
Mas um dia para a Natureza chegará vossa vez!
em Portugal penedos que se desprendem sem que se saiba se outros com mais trágicos resultados os vão seguir
árvores derrubadas e um sem fim de tristeza que vem ainda mais empobrecer Portugal e onde também cada morto será uma vida a menos, arrancada ao fio que seguia.
aumentar o sofrimento dum povo que vivia abaixo do mais necessário.
E os mortos? esses números frios que nos apresentam!
Sabem quem são esses mortos? cada um deles era uma vida que sonhava futuro, construía esperanças, e erguia de seu suor as casas que habitavam? Cada morto não é um número!
Era um ser Humano com direito a prosseguir a sua vida e seus projectos de vida, de viver feliz seus afectos e seus sonhos.
Não me falem mais do números de mortos que é um insulto feito à vida!
E uma Criança? que valor tem para vocês seus abutres, a vida pequenina? que se extinguiu por culpa
da vossa indiferença e da vossa malfadada cegueira! Ofuscados que andam pelo brilho falso do dinheiro e do Poder!
os vossos olhos não têm pupilas, mas cifrões!
e os vossos sentimentos para com o próximo? inexistentes! tudo o que há em vós
é uma enferrujada caixa registadora, que funciona mal nas contas que faz, porque um dia vos vão sair furadas!
Ah pois quê!? todos esses milhões hoje contabilizados para obras em que os vão empregar?
na prioridade das habitações dos pobres ou no luxo que salta à vista e engana as próprias vítimas!
Vejam bem tudo o que fizeram, tudo o que vão fazendo de prejudicial e de nefasto! mas seria interessante que uma comissão internacional se ocupasse de verificar em que são utilizados esses dinheiros?!
Nas prioridades, ou no que vos enche ainda mais os cofres?
E as prioridades ecológicas? são tidas em linha de conta, para que o mesmo cataclismo se não repita?
há técnicos com competência para estudando os solos e sua configuração, se reconstrua com segurança e eficácia
e já agora para finalizar vou deixar aqui um provérbio dos Índios do Canadá:
Quando todas as árvores forem cortadas, quando todos os rios tiverem secado, quando o último peixe tiver morrido, vocês vão perceber que dinheiro não serve para comer
Índios do Canadá
estou convosco sempre, injusticiados do Mundo
Marília Gonçalves
2 comentários:
Acordar, viver
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.
Carlos Drummond de Andrade
Ecce Homo
Desbaratamos deuses, procurando
Um que nos satisfaça ou justifique.
Desbaratamos esperança, imaginando
Uma causa maior que nos explique.
Pensando nos secamos e perdemos
Esta força selvagem e secreta,
Esta semente agreste que trazemos
E gera heróis e homens e poetas.
Pois deuses somos nós. Deuses do fogo
Malhando-nos a carne, até que em brasa
Nossos sexos furiosos se confundam,
Nossos corpos pensantes se entrelacem
E sangue, raiva, desespero ou asa,
Os filhos que tivermos forem nossos.
Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'
Enviar um comentário