A pátria é nos lugares onde a alma está acorrentada.
Voltaire
Voltaire
Por: José Niza - In ''O Ribatejo''
1. Depois do que aqui escrevi na semana passada sobre “o dinheiro”, não
esperava tão depressa voltar ao assunto: preferia que, em tempo de Natal, a
caneta me conduzisse para outras paragens, e me levasse por caminhos que
fossem de procura, ou de descoberta, de uma réstia de esperança, de uma
festa numa praça de amor, de paz e de canções.
Mas não. O homem põe. E a banca dispõe.
2. Um relatório há poucos dias divulgado pela CMVM – a Bolsa – deu-me um
murro no estômago. Não é que eu tenha andado distraído da ganância e dos
festins da nossa alta finança. Mas tudo tem que ter limites: os números
revelados nesse relatório sobre os salários dos administradores dos bancos e
das empresas mais importantes do País, para além de aterradores, são um
insulto ao povo português e, em especial, aos mais de 500 mil trabalhadores
que estão no desemprego.
3. O salário mínimo em Portugal é de 450 euros por mês. 90 contos por mês. 3
contos por dia. Muito pouco para pagar a renda da casa, a comida, as roupas,
os sapatos, a água, a luz, os transportes, talvez o telemóvel…
Há um ano, o governo, as confederações patronais e os sindicatos, assinaram
um acordo para, em 2010, aumentar o salário mínimo de 450 para 475 euros.
Menos de 1 euro por dia! Mas agora, as tais confederações patronais – que
assistem mudas e quedas ao escândalo dos vencimentos dos gestores – vêm
ameaçar que se o salário mínimo subir para 475 euros será um desastre
nacional. E, em contrapartida, propõem 460 euros! Isto é, uma subida de 33
cêntimos por dia!
4. O relatório da CMVM revela que o salário anual médio dos administradores
da banca e empresas cotadas na bolsa foi, em 2008, de
777 mil euros, isto é, de 64.750 euros por mês (cerca de 13 mil contos
mensais ou 426 contos/dia).
64.750 euros por mês equivalem a 136 salários mínimos. Isto é, para atingir
o valor do ordenado mensal de um desses gestores, um trabalhador que receba
o ordenado mínimo terá de trabalhar mais de 11 anos!!!
5. Mas ainda não é tudo. Há mais, bastante mais.
2008 – como todos nós sabemos – foi um ano de crise, de falências, de
desemprego galopante, de apertar o cinto. Mas, enquanto a esmagadora maioria
dos Portugueses fazia contas à vida, cortava nos gastos, fazia sacrifícios
ou – nos casos mais dramáticos – passava fome, os senhores do dinheiro
tiveram, em média, aumentos de 13 %.
13% sobre 777 mil euros são cerca de 100 mil euros, qualquer coisa como 20
mil contos por ano e para cada um. Só de aumentos!
2009 – um ano que agora se vai embora sem deixar saudades – foi também um
ano de enorme crise na indústria automóvel. Mas nem tudo foram
desgraças: no Vale do Ave, território dos têxteis e do mais alto desemprego
do País, nunca se venderam tantos Porches. Quanto mais desempregados na rua,
mais Porches na estrada!
Como se tudo isto ainda não bastasse, os próprios ex-administradores da
banca – como é o caso do BCP – têm regalias e mordomias que ultrapassam
todos os limites do imaginável: jactos privados para viajarem, seguranças,
automóveis de luxo, motoristas, etc.
Foi-me contado um caso em que a excelsa esposa de um banqueiro se deslocava
regularmente a Nova Iorque – em Falcon privado pago pelo BCP – para ir ao
dentista e fazer compras! E que o seu excelso marido (ex-presidente do BCP e
membro da Opus Dei) dispunha de um batalhão de seguranças 24 horas por dia,
também pagos pelo banco.
Será que uma pessoa com a consciência tranquila precisa da protecção de 40
seguranças? Nem Sadam Hussein tinha tantos…
6. Mas, afinal de contas, quem paga tudo isto?
Para além dos pequenos accionistas, é óbvio que são os clientes dos bancos,
essa espécie sub-humana que a banca submete à escravatura e trata a chicote,
essa legião de explorados que ainda olha para os bancos – e sobretudo para
os banqueiros – com o temor reverencial de quem vê um santo como Jardim
Gonçalves em cima de uma azinheira.
Quando um banco remunera um depósito a prazo com 1% de juros e cobra 33% nos
cartões de crédito, é-lhe fácil conseguir dinheiro para cobrir todos os
excessos e bacanais financeiros do sistema bancário.
Quando um banco paga metade dos impostos de qualquer empresa em situação
difícil, o dinheiro jorra, enche os cofres dos bancos e os bolsos dos
banqueiros.
É nisto que estamos. Até quando?
Será que a um sistema que assim existe e que assim funciona – encostado ao
Poder e protegido pela Lei – se pode chamar Democracia?
PS – E que ninguém, de má consciência, tenha a desvergonha de me vir dizer que isto é demagogia!
1. Depois do que aqui escrevi na semana passada sobre “o dinheiro”, não
esperava tão depressa voltar ao assunto: preferia que, em tempo de Natal, a
caneta me conduzisse para outras paragens, e me levasse por caminhos que
fossem de procura, ou de descoberta, de uma réstia de esperança, de uma
festa numa praça de amor, de paz e de canções.
Mas não. O homem põe. E a banca dispõe.
2. Um relatório há poucos dias divulgado pela CMVM – a Bolsa – deu-me um
murro no estômago. Não é que eu tenha andado distraído da ganância e dos
festins da nossa alta finança. Mas tudo tem que ter limites: os números
revelados nesse relatório sobre os salários dos administradores dos bancos e
das empresas mais importantes do País, para além de aterradores, são um
insulto ao povo português e, em especial, aos mais de 500 mil trabalhadores
que estão no desemprego.
3. O salário mínimo em Portugal é de 450 euros por mês. 90 contos por mês. 3
contos por dia. Muito pouco para pagar a renda da casa, a comida, as roupas,
os sapatos, a água, a luz, os transportes, talvez o telemóvel…
Há um ano, o governo, as confederações patronais e os sindicatos, assinaram
um acordo para, em 2010, aumentar o salário mínimo de 450 para 475 euros.
Menos de 1 euro por dia! Mas agora, as tais confederações patronais – que
assistem mudas e quedas ao escândalo dos vencimentos dos gestores – vêm
ameaçar que se o salário mínimo subir para 475 euros será um desastre
nacional. E, em contrapartida, propõem 460 euros! Isto é, uma subida de 33
cêntimos por dia!
4. O relatório da CMVM revela que o salário anual médio dos administradores
da banca e empresas cotadas na bolsa foi, em 2008, de
777 mil euros, isto é, de 64.750 euros por mês (cerca de 13 mil contos
mensais ou 426 contos/dia).
64.750 euros por mês equivalem a 136 salários mínimos. Isto é, para atingir
o valor do ordenado mensal de um desses gestores, um trabalhador que receba
o ordenado mínimo terá de trabalhar mais de 11 anos!!!
5. Mas ainda não é tudo. Há mais, bastante mais.
2008 – como todos nós sabemos – foi um ano de crise, de falências, de
desemprego galopante, de apertar o cinto. Mas, enquanto a esmagadora maioria
dos Portugueses fazia contas à vida, cortava nos gastos, fazia sacrifícios
ou – nos casos mais dramáticos – passava fome, os senhores do dinheiro
tiveram, em média, aumentos de 13 %.
13% sobre 777 mil euros são cerca de 100 mil euros, qualquer coisa como 20
mil contos por ano e para cada um. Só de aumentos!
2009 – um ano que agora se vai embora sem deixar saudades – foi também um
ano de enorme crise na indústria automóvel. Mas nem tudo foram
desgraças: no Vale do Ave, território dos têxteis e do mais alto desemprego
do País, nunca se venderam tantos Porches. Quanto mais desempregados na rua,
mais Porches na estrada!
Como se tudo isto ainda não bastasse, os próprios ex-administradores da
banca – como é o caso do BCP – têm regalias e mordomias que ultrapassam
todos os limites do imaginável: jactos privados para viajarem, seguranças,
automóveis de luxo, motoristas, etc.
Foi-me contado um caso em que a excelsa esposa de um banqueiro se deslocava
regularmente a Nova Iorque – em Falcon privado pago pelo BCP – para ir ao
dentista e fazer compras! E que o seu excelso marido (ex-presidente do BCP e
membro da Opus Dei) dispunha de um batalhão de seguranças 24 horas por dia,
também pagos pelo banco.
Será que uma pessoa com a consciência tranquila precisa da protecção de 40
seguranças? Nem Sadam Hussein tinha tantos…
6. Mas, afinal de contas, quem paga tudo isto?
Para além dos pequenos accionistas, é óbvio que são os clientes dos bancos,
essa espécie sub-humana que a banca submete à escravatura e trata a chicote,
essa legião de explorados que ainda olha para os bancos – e sobretudo para
os banqueiros – com o temor reverencial de quem vê um santo como Jardim
Gonçalves em cima de uma azinheira.
Quando um banco remunera um depósito a prazo com 1% de juros e cobra 33% nos
cartões de crédito, é-lhe fácil conseguir dinheiro para cobrir todos os
excessos e bacanais financeiros do sistema bancário.
Quando um banco paga metade dos impostos de qualquer empresa em situação
difícil, o dinheiro jorra, enche os cofres dos bancos e os bolsos dos
banqueiros.
É nisto que estamos. Até quando?
Será que a um sistema que assim existe e que assim funciona – encostado ao
Poder e protegido pela Lei – se pode chamar Democracia?
PS – E que ninguém, de má consciência, tenha a desvergonha de me vir dizer que isto é demagogia!
2 comentários:
E como se isto não bastasse!..É falar-se também da campanha accionista 2000/2001 engendrada por estes srs e em que foram lesadas tantas famílias. "obrigaram" a compra a ignorantes da matéria e ainda por cima os fizeram contrair empréstimos de valor avultadissmo.Há um artigo da Rosa Soares do Púnlico de 28-12-2009 e que conta a situação dum emigrante na´Africa do Sul -com o título Emigrante enfrenta BCP e ganha processo. Ganhou apenas o descanso ao fim de 5 anos de luta, e fez um acordo para garantir que a nossa Justiça o fizesse perder tudo.5 anos de angústia e sofrimento que ninguém lhe pagou e ainda teve de dar ao baanco mais dinheiro.É o País que temos e a Justiça que pela sua lentidão obriga.
Cumprimentos e ainda bem que existem Portugueses com Valores Morais
JOão
É bom que todos denunciem os crimes que o Millennium bcp cometeu e continua a cometer. É dever de cidadania alertar os cidadãos para o que lhes pode acontecer por acreditarem numa instituição financeira que deveria ser séria, mas que não o é, este banco é MILLENNIUM BCP, mesmmo com a actual administração (PS) Carlos Santos Ferreira, Armando Vara, etc. o Sr. Presidente da Republica deveria intervir para evitar males maiores e pôr cobro a esta "escravatura bcp" que está a contribuir para o colapso dos portugueses e de Portugal.
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