A pátria é nos lugares onde a alma está acorrentada.
Voltaire
(porque a Ternura é sempre o valor sem oscilações)
À QUERIDA MEMÓRIA DE MINHA AVÓ
No teu quarto minha avó
Havia um mundo secreto:
Perfume de pão-de-ló
Rendas de bilros no tecto
Na mesa de cabeceira
O candeeiro redondo
Duma luz opalescente...
Nunca soube se essa luz
Era luar que descia
De teu olhar sorridente.
Tinhas os olhos azuis...
Isso de estrelas de luas
Perdia-se facilmente
Na escuridão que há nas ruas
Para vir suavemente
Habitar ao pé de ti...
E eu, sorria contente
Do sonho que aí vivi.
Ah, o mundo da infância
Nos cuidados da avó
Deslizava brandamente.
Também no teu quarto havia
armários e gavetas
E a caixa de costura
Cantos de prata esculpida
Que teu irmão um artista
Inventara para ti.
Na magia do teu quarto
Acordavam meus sentidos
Havia um cheiro encerado
Nos móveis adormecidos.
O meu sentir esfuziante
Bem desperto e acordado
Descobria tua essência
No gesto de cada instante:
Havia uma transparência
Uma mágica ternura
Trazendo à nossa presença
O que parecia lonjura.
Tudo era compreensão
No espaço do meu sonhar...
Sobre minha, tua mão
Era canção d’embalar.
Desapareciam os medos
Iluminava-se a sombra.
Adormecia em teus dedos
minh’alma branca de pomba.
À QUERIDA MEMÓRIA DE MINHA AVÓ
No teu quarto minha avó
Havia um mundo secreto:
Perfume de pão-de-ló
Rendas de bilros no tecto
Na mesa de cabeceira
O candeeiro redondo
Duma luz opalescente...
Nunca soube se essa luz
Era luar que descia
De teu olhar sorridente.
Tinhas os olhos azuis...
Isso de estrelas de luas
Perdia-se facilmente
Na escuridão que há nas ruas
Para vir suavemente
Habitar ao pé de ti...
E eu, sorria contente
Do sonho que aí vivi.
Ah, o mundo da infância
Nos cuidados da avó
Deslizava brandamente.
Também no teu quarto havia
armários e gavetas
E a caixa de costura
Cantos de prata esculpida
Que teu irmão um artista
Inventara para ti.
Na magia do teu quarto
Acordavam meus sentidos
Havia um cheiro encerado
Nos móveis adormecidos.
O meu sentir esfuziante
Bem desperto e acordado
Descobria tua essência
No gesto de cada instante:
Havia uma transparência
Uma mágica ternura
Trazendo à nossa presença
O que parecia lonjura.
Tudo era compreensão
No espaço do meu sonhar...
Sobre minha, tua mão
Era canção d’embalar.
Desapareciam os medos
Iluminava-se a sombra.
Adormecia em teus dedos
minh’alma branca de pomba.
MarÍlia Gonçalves
Poema para Amigos
Que bom é ter um lugar
Pertencer a uma paisagem
Dar-lhe corpo, coração
E saber de cada aragem
Aquilo que as outras são
Não ser somente uma rua
Que nos atravessa, passa
Mas um bairro continente
Que nos prende, nos enlaça
Como sonho que esvoaça
Ou uma estrela ridente.
Ser pertença libertária
Como raiz ao expandir
Nessa força que contrária
É livre de estar ou ir.
Ser dum chão ser gente nossa
E saber interpretar
Tudo o que em nós se desdobra
Na sede de partilhar
Até à fímbria do dia
Até à orla do mar
Ser semente, poesia
Ser voz e poder cantar.
Marilia Gonçalves
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