TRISTEZA LONGE
Esta
tristeza de maré-cheia
Que envolve
meu sentir e o incendeia
Vem de múltipla
certeza regelada
Além disto
que sou não sou mais nada
Um grito de gaivota junto à praia
Quando as ondas
rendas e cambraia
São timbre e vozes de açucenas
Que vêm
florir nas minhas penas.
O meu olhar
são ondas que se vão
Com raízes
de sal no coração
E versos universos
do meu pão
A fome é a voz
vinda do cais
Tem cheiro a
maresia e naturais
Ecos de quem vive
com o mar dentro
Tenho algas a
ondular no pensamento
E um riso de
poente que se esvai
Grito que ninguém
ouve
Quando chamo
Estridência de
poetas se declamo
E vêm fazer-me
companhia
Como brancos fantasmas
Dia-a-dia.
Marília Gonçalves