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quarta-feira, 2 de outubro de 2024
palavras mortas
Na noite nascer a noite
a mais total escuridão
com todo o mal que se acoite
preso aos dedos duma mão.
Olhos nunca rasgados
recusa forte de olhar
por onde correm gelados
um rio imenso ou o mar.
Onde no gesto negado
а não arrancada língua
há sons sempre sufocados
palavras mortas à míngua.
Erguidos em pesadelos
gestos de frio ou de horror
que nos põem nos cabelos
a sombra, vozes, a cor.
Marilia Gonçalves
Vem, traz-me lembrança de mundo perdido
SELVA
PAZ
Há no arvoredo
o timbre do medo
velho secular.
atravessou história
dentro da memória
ficou a pairar.
Do tempo profundo
na sombra do mundo
apenas segredo
o homem escondido
escutava o bramido
do mar no fraguedo.
Milénios passaram
paisagens mudaram
o homem sofria
estendendo prós céus
os braços a deus
que não respondia.
No dia presente
como antigamente
a humanidade
não quer ver em si...
chora, canta, ri
sem fraternidade.
Na mente saudosa
esfolhando uma rosa
não olha o futuro
mas tem entre mãos
o mundo de irmãos
a brilhar no escuro.
Até que por fim
brotará de nós
de ti e de mim
o som grandioso
a Paz, terra em gozo
a terra um jardim.
O jardim formoso.
Marília Gonçalves
desvendar da ideia.
Batem sombras à porta
da ideia que nos finta
palavras chegam e partem
a adejar coloridas
mas raramente são chave
do desvendar da ideia.
Nem todas trazem o sumo,
o essencial da voz.
Letra palavras a prumo
a gritar dentro de nós.
Marília Gonçalves


