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terça-feira, 3 de setembro de 2024

quando

 

Luminosamente quando

a tua voz me invadir

como estrela que gritando

foi a luz que fez surgir

quando ao som da tua voz

o meu corpo for só teu

há-de surgir entre nós

cada  som que emudeceu.


Quando às tuas mãos abertas

o meu corpo responder

quando forem quase certas

as horas de amanhecer.

Quando meus lábios enfim

poisarem vivos nos teus

nascerá entoa em mim

talvez a crença num deus.


Quando meu corpo abraçado

ao gesto másculo teu

o meu olhar inundado

do espasmo pra que viveu

quando me encontrar perdida

no escuro da tua pele

hei-de render-me vencida

a ti, meu amor, aquele

que atravessou os caminhos

desde há milénios traçados

doce gorjeio de ninhos

verdes abundantes prados...

pra nossos corpos sozinhos

não serem ultrapassados.


História a escrever no caminho

dois amantes enlaçados.



Marilia Gonçalves

 

.


pai menino

 

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Pai

 

Pai


Gigante foste quanto mais não fosse

além dos dias e além do tempo

nesse momento quando a voz crescia

no eco mudo de estações de pedra.

 

 Marilia Gonçalves

 

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vida por escalar

 

Subi entre bruma até à frase

onde se esconde essência do segredo

ao atingi-la, ao desvendá-la quase

ia à vida no meio, era ainda cedo.

 

Fui fazendo colheita de palavras

amontoei os sons e os sentidos

na inconstância dormente aonde gravas

com cinzel de dias aluídos.

 

Tomei forma antiga de futuro

maré que recusa o oceano

como poeta a buscar o som que puro

escreva além do poema, o ser humano.

 

O caminho estendia-se defronte

doíam pedregulhos e secura

a vida por escalar lembrava monte

que se elevava sempre a mais altura.

 

                 Marilia Gonçalves

 


 

                      

 

alegre cotovia

 

Vou pela janela do tempo

procurar o vento norte

saber em que estranha plaga

me deixou o vago olhar

se o meu dia era uma ave

que me deixou suas penas

desfeitas em açucenas

a arderem sobre o mar.

 

Sou intempérie da vida

ou lamento a inventar

ou menina acontecida

com o bibe a esvoaçar

sou além to tredo dia

a alegre cotovia

que inunda o campo de voz

ou sou febre em poesia

a gritar dentro de nós.

 

  Marília Gonçalves

 


 

 

Demónio- mulher- que nada!

 

Demónio-  mulher- que nada!

desde Eva até aos ateus

sempre diabolizada

nos olhos de cada deus

que pela vida passando

apenas sabe de ti

aquilo que a noite aponta

mesmo se o dia sorri

só noite

a sombra é que vence

e nos encalces da história

cada Adão que por si pense

pensa em nome da memória

vê como no passado

mulher em vestes de medo

desfaz o dia sem glória

cultiva o verbo segredo

quando as Evas num grito

ainda lhe falam de amor

ouve ainda estridente apito

como pânico maior

e nunca a palavra é ganha

e nunca Adão se retrata

e Eva desce do tempo

e despe as vestes do nada. 

 

 

 


 

 

 



Poema à beira cais

 

Poema à beira cais do desalinho

poema quase à margem desamor

poema a levantar pelo caminho

as águas estivais de cada flor.

 

Poema nessa força que completa

o ritmo febril do dia não

a modelar entre olhos de poeta

a luz a irromper na solidão 

 

 


 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

ardência

 

Afastei-me da muralha

onde a pedra cicatriza

a minha memória ausente

sei de árvores que partilham

o meu esquecimento verde

a afundar o azul

do oceano que as perde.

 

Mas sei o hoje preciso!

como laço, como elo

atravessa tempo, espaço

na solidão do apelo

ainda por desvendar.

A clareira aberta a custo

na intempérie dos dias

entre plátanos aéreos

e a sombra da maresia,

vem tornar a trepadeira

inútil na aparência

quando o horizonte alinha

o nosso olhar em paciência.

 

Fui andando no caminho

na ardência dos meus passos

sem saber até que dia

de encontros, futuros laços

teria que prosseguir.

 

Caiu-me o dia nos braços

com o sol a querer surgir.

 

Nenhuma pedra me prende

nem a sombra me segura

enquanto houver tanto verde

no fundo da água escura.

 

 Marília Gonçalves