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terça-feira, 3 de setembro de 2024

ardência

 

Afastei-me da muralha

onde a pedra cicatriza

a minha memória ausente

sei de árvores que partilham

o meu esquecimento verde

a afundar o azul

do oceano que as perde.

 

Mas sei o hoje preciso!

como laço, como elo

atravessa tempo, espaço

na solidão do apelo

ainda por desvendar.

A clareira aberta a custo

na intempérie dos dias

entre plátanos aéreos

e a sombra da maresia,

vem tornar a trepadeira

inútil na aparência

quando o horizonte alinha

o nosso olhar em paciência.

 

Fui andando no caminho

na ardência dos meus passos

sem saber até que dia

de encontros, futuros laços

teria que prosseguir.

 

Caiu-me o dia nos braços

com o sol a querer surgir.

 

Nenhuma pedra me prende

nem a sombra me segura

enquanto houver tanto verde

no fundo da água escura.

 

 Marília Gonçalves

 


 


 

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