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quarta-feira, 7 de agosto de 2024
Sede de mim!
Sede de mim!
Harmonia
que ainda não inventei
desfaço-me dia após dia
nada sei.
Descubro apenas que sou
o começo do meu ser
voz na voz que me calou
e me rasga e faz doer.
Silêncio ao longe esquecido
ou murmúrio do jardim
incompreensão gemido
acorda dentro de mim.
Marília Gonçalve
A porta bateu? Ou bateram à porta? Quando a porta bate é porque há corrente de ar.
E quando batem à porta qual é a ideia corrente? São ladrões. Não de portas.
E nem os ladrões batem à porta nem as portas batem nos ladrões.
E a porta tem corrente. Mas não corre, porque se corresse a porta não era porta,
era corredor. E o corredor nunca fica à porta. Entra sempre.
Ou sai. Mas quando sai, sai a correr. Quando entra, não.
Entra só corredor e nós às vezes é que corremos para entrar.
E Saímos pela porta que bate antes antes dela bater porque
senão pode bater-nos a nós. E ficávamos sem a voz com o susto.
Porque se ficássemos com o susto e com a voz não se diria de nós
que foi a porta que nos bateu por causa da corrente de ar.
Podia dizer-se que o ar nos deu e fomos bater à porta.;
A porta bateu? Ou bateram à porta?
A culpa foi do ar que não faltou. Se o ar faltasse não havia corrente e
o corredor não saia a correr nem entrava a porta porque lhe faltava o ar.
Assim a culpa é do ar se a porta não bateu nos ladrões
que não bateram à porta. Entao porque diabo é que a porta bateu?
Marília Gonçalves
ceifas Portugal Vindimas Mondadeiras Pescas Mulheres em Luta
Turismo é amor é vida
se cada um que vier
na paisagem conseguida
sentir um povo a viver.
Marília Gonçalves
A Aveiras de Cima
A Aveiras de Cima
Num caminho de poeira
branco de sol e cavado
chuva de estação inteira
que outra estação semeava
a areia que se fora
longos sulcos prolongava.
Caminho da minha infância
passou e torna a passar
lavrando a mesma distância
que caminho veio sulcar.
Meu pinhal dali partia
cheio de verde e de sol
eu, na areia estendia
voz de povo rouxinol.
Não rouxinol de garganta
mas que gravou no caminho
o pó dos versos que canta
mesmo se chora baixinho.
M.G.
cânticos pagãos.
Sobe o som
a cor revive
enlaça mãos transparentes
olhos de seiva possível
estão ausentes.
Distante chuva
desperta às tuas mãos
cristal de laranja, uva
verte cânticos pagãos.
Marília Gonçalves
continuação!...
Há flores de lótus
nos longínquos olhos
profundos lagos
abertos para a luz
onde a vida reflecte
por instantes
pensar que nos traduz.
Irmãos além da seiva
alem do sémen
mais longe que a distancia
é a fusão
da memória dos dias da infância
meu irmão.
Dias passados escrevem-nos a história
que há-de contar-nos para além do fim
imagens que pertencem à memória
não só de ti nem de mim!
Mas a todos aqueles que moldaram
uma estrela polar na nossa mão
em nossos peitos pra sempre
semearam
continuação!...
Aqueles que partindo, em nós ficaram
meu irmão.
Marília Gonçalves
SEM O SUL NUNCA

Cantata verde
água do dia
leve nuvem, poesia
desenhar do sonho.
Na sede do pomar
antiga água
vem cantar.
Vozes de Verão
caiam Primavera
limite de cigarra
de outra era.
Marília Gonçalves





























