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Eu nasci filha do sul

 

Eu nasci filha do sul
Amo o sol e a cigarra
O mar fundo o céu azul
O vibrar duma guitarra.
As mãos crestadas de sol
Rosto brunido ao trabalho
A voz que fala a cantar
Remos a cortar a água.
Os fins de tarde doirados
Noites ardentes de amor
Açoteias desgarradas
As vagas em seu rumor
Noite fora o areal
Desenha uivos de amor
E ficam na água impressos
Os passos de cada cor.
 


Os filhos que são teus...Ó Portugal!

 

És Portugal e matas-me de fome
não dessa fome que matou Camões
Mas interior, que me consome e come
Como câncer de minhas emoções.
Cantam em mim lembranças da infância
Que traída, em ti floresceu
Cravos na minha dor
Flores na distância
Da primavera que Abril amanheceu.
Grito por ti e nunca me respondes
Desde menina semeei em ti
Esse sol que de mim escondes
E que só em ti vivi.
Portugal, esquecido de quem teve
Teu nome por bandeira, por batalha
E foi percorrendo a vida inteira
No abraço feroz de vã mortalha.
Esqueceste quem te amou, os que te deram
Sobre a renúncia de suas vidas
A luz da alegria que perderam
Em nome das estrelas perseguidas.
Tanto ser vil, em ti encontra abrigo
Mercenários sem lei e sem moral
Enquanto vais tratando em inimigo
Os filhos que são teus...Ó Portugal!
 

Débil

 

Débil estou

sempre sozinha

vivo de ecos

luzes e sombras

gargalhadas vêm até mim

eco ainda de festim

a que nunca participo

dias e dias sem fim

com esperança

 por companhia

e alguma doce lembrança

que por meus olhos havia

viver de eco

é muito pouco

chorava por companhia

mas ao meu coração louco

quem chegava.. a Poesia

Nada mais as avezinhas

que trilavam no jardim

faziam-me companhia

mas ainda assim

Faltavam vozes humanas

dessas que aquecem a alma

que em solidão vai morrendo

e o eco ao longe gemendo…

 

Marília Gonçalves  

 


 

 

Foi um Algarve que não mais existeA

 

Foi um Algarve que não mais existe
Mas que ficou em mim, voz de cristal
Um Algarve de mito de magia
De lendas, de areal
Um Algarve, perfume confundido
De alfarroba, amêndoas, de pinhal
Das figueiras de braços retorcidos
De cada laranjal
Um Algarve ainda tosco
Mas tão belo
Como é belo quanto é natural
Rústico Algarve
Dava gosto vê-lo
Na voz cantada do sul de Portugal
 
Marilia Gonçalves