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terça-feira, 4 de junho de 2024

 A porta bateu? Ou bateram à porta? Quando a porta bate é porque há corrente de ar. E quando batem à porta qual é a ideia corrente? São ladrões. Não de portas. E nem os ladrões batem à porta nem as portas batem nos ladrões. E a porta tem corrente. Mas não corre, porque se corresse a porta não era porta, era corredor. E o corredor nunca fica à porta. Entra sempre.

Ou sai. Mas quando sai, sai a correr. Quando entra, não. Entra só corredor e nós às vezes é que corremos para entrar. E Saímos pela porta que bate antes antes dela bater porque senão pode bater-nos a nós. E ficávamos sem a voz com o susto. Porque se ficássemos com o susto e com a voz não se diria de nós que foi a porta que nos bateu por causa da corrente de ar. Podia dizer-se que o ar nos deu e fomos bater à porta.;

A porta bateu? Ou bateram à porta? A culpa foi do ar que não faltou. Se o ar faltasse não havia corrente e o corredor não saia a correr nem entrava a porta porque lhe faltava o ar.

Assim a culpa é do ar se a porta não bateu  nos ladrões que não bateram à porta. Entao porque diabo é que a porta bateu?

 




ardente como o verão





Volto de novo ao caminho

venho trémula dorida
oiço somente baixinho
como um alento de vida
um som cantado e antigo
vindo de longe, tão longe
onde fica o abrigo 

da esperança que me não foge
volto a ser como era

 com força na voz, na mão

fértil como a primavera
e ardente como o verão.

 

 


 

 

O verde dos vinhedos coloria-me o vestido

 

A cal escorria-me dos olhos azuis de 

tanto céu e transformava-se 

em manchas doiradas ao poisar no chão. 

O verde dos vinhedos 

coloria-me o vestido e mesmo as mãos lembravam 

acenos da paisagem.

 A terra tisnada num reflexo de tempo, de sol, 

abria-se à procura de ar 

ou de água que mais abaixo murmurava suave. 

Ribeiro, não,não era.

 Antes uma fita ondulante e musical a refrescar a tarde,
rasgada apenas pelo som das cigarras. Pássaros não os havia

 àquela hora de calor. Perto da pequena nascente 

o zumbido atordoante

 das abelhas, numa reminiscência de mel.


Foi há muitos anos, tão longe daqui. Quase duvido ter sido eu

 a presenciar tal imagem da vida.


Não uso vestido rodado nem rodopio a cantar, 

mas sei que dentro de mim existe ainda,

 embora não saiba bem onde,

 essa que nos dias meninos olhou e viu.