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sábado, 25 de maio de 2024
ALERTA
Levantei voo de ti
Levantei voo de ti
segui rumo outro ocidente
em pura água te vi
Atlântico incidente
oceano que aprendi
a esquecer,
esquecer somente.
Procurei-te em maré alta
tão cheia de água redonda
que morro à sede por falta
do teu corpo em que se exalta
o espraiar de cada onda.
Onda maré de desejo
desta vontade de ter
não analógico beijo.
Mais um elo que ao prender
seja estuário ou o Tejo
nascente e foz a arder.
Ardentia, tom da água
ardência de amor que é meu
vem a onda traz mais mágoa
a levar-me contra a frágua
onde o amor se perdeu.
Perdição, historia de amor
sentimento, vida, dia
a pouco e pouco maior
a lembrar-nos o sol-pôr
desfeito na maresia.
Maresia, maré-vaza
aqui fico ébria de mar...
não regresso mais a casa
derradeiro golpe de asa
levou-me pra não voltar.
Marília Gonçalves
Meu país meu bem, meu deus
A cavalgar a poeira
Luz de minh’alma perdida
hoje nem sei o que sou
a sombra da minha vida
ou luz de voz que voou.
Sol ou montanha na neve
ou planície ao calor
negação da cor que teve
a dimensão do amor.
Mas quando partindo, dias
vão cavalgar a poeira
de perdidas alegrias
Sou saudade toda inteira
fermento de poesias
seara em sonho às mãos cheias.
Marília Gonçalves
PAINEL
PAINEL
Trazia nela sinais
do nácar leve da tarde
perfume de laranjais
sonda vermelha, trigais
musical esfera de jade.
Longe vai, onda a rolar
leva a praia ao sol do dia
laranja da beira-mar
em fantástica elegia.
Há na cósmica aguarela
o tom leve de pincel
tal uma mancha amarela
a boiar na nossa pele.
Marília Gonçalves
violino verde
violino verde
Um violino verde
atado aos dias
do estanho matinal
fecunda a elegia
do pranto vegetal.
Marilia Gonçalves
A ESFERA
A ESFERA
Ao pé de mim sorria altisonanté
Foi a luz no meu olhar infante
Levada na mão do vento Norte
entre estrelas altíssimas subiu.
Vejo-a brilhar agora na distância
esfera de luz não volta mais
branda candura
suavemente
poisou um dia na mão
tão brilhante transparente
ilusão...
Durante anos a esfera
iluminou-me olhos, a mão.
Nasciam versos dessa luz virente
sangue a fluir do coração.
Olhei-a na ternura de criança
A olhá-la cresci
fiz-me mulher.
Minha esfera d’esperança
não parava igualmente
de crescer.
Certo dia soprou o vento, forte
minha esfera de luz não resistiu
levada na mão do vento norte
entre estrelas altíssimas subiu.
Vejo-a brilhar ao longe na distancia
a esfera de luz não voltou mais
como não volta mais a minha infância
d’inocência, cantos naturais.
é um poema mais
ou é o grito!
Cada vez que lembro a esfera ausente
a acenar dos fins do infinito.
Marília Gonçalves






