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terça-feira, 9 de janeiro de 2024

"O que o PS nos dizia é que estava refém da esquerda"

 "O que o PS nos dizia é que estava refém da esquerda"

 

 
 

 

cintilam escamas

 

 

O olhar cheio de tempo

num murmúrio musical

harpejos lentos de vento

sumo do sol roseiral


mãos aladas gota a gota

esvoaçam sombra do dia

praia perdida gaivota

a marulhar poesia



véu azul desce do templo

onde se perdem os gestos

repetido movimento

passos lestos


escorrem dias como lágrima

pérolas d'água vertida

desdobrar múltiplas páginas   

sempre na história caída


cintilam escamas movendo

vago do azul perdido

soa em metáfora o tempo

na velha praia incendida.


Marília Gonçalves

 

 

 



 

Clareia em Portugal

Sede de vida

sede tanta

 morta vida

 na luz canta

 

 É hora de partida

Ainda e outra vez

O travo é tão azedo

Que parto ao fim do dia

E é tão cedo. Meu país d’infância

 e alegria

Porquê este degredo?   

               

     Marília Gonçalves

 


 

pelas curvas do caminho,

 

 

 

 

 

Celeiro de abundância

vazio, à fome de alguém

bate-te à porta a infância

famélica ao pé da mãe.

 

Inútil pão doutro dia

nos olhos de ver morrer!

Quem pode ter alegria

por a semente prender?

 

Vendavais! Levem o muro

que prende o pão de amanhã.

Sementeira do futuro

a negar a vida vã.

 

Só quando livre a seara

crescer em pão mundial

a manhã será mais clara

nas margens do ideal.

 

Quando fluente o olhar

vier poisar de mansinho

na forma do verbo amar

pelas curvas do caminho,

 

Nós então seremos povo

seremos gente a valer

semente do homem novo

que de nós há-de nascer!

 

Marilia Gonçalves


envolve leve o ar, em ténue véu.

 

Adormece uma flor no pensamento

ou são praias azuis ao vento leste

acenar em brando movimento

trazem da íntima seara que me deste

esse estranho perfume de erva amarga

que envolve leve o ar, em ténue véu.

Mas não há semente que me traga

o caminho que em tempo foi o meu.

 

 

 


 

À voz da tua voz


À voz da tua voz desconhecida

perdi-me pela cidade

cada rua uma avenida

cada subida vontade.

 

Ouvi o som que marinho

alongava  meu olhar

ouvi-o ainda baixinho

nos meus olhos marulhar.

 

A cidade à luz erguida

movia-se crepitava

eu, prosseguia perdida

na tua voz viajava.

 

Vi praças e avenidas

largos jardins e pracetas

mantinham-se em luz escondida

minhas velhas tranças pretas.

 

Menina mulher ternura,

corro a cidade por ti

procuro o que em ti encontro

       mas juro

      não mais te vi.

 

                Marilia Gonçalves