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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Ser jovem, viver no campo

 

Ser jovem, viver no campo

mas no campo verdadeiro.

Ter um poço um muro branco

um pomar de forte cheiro.

Ter uma pequena horta

um burro de olhos de brilho

ter em casa aberta a porta

fazer pão, ver rir um filho

ter rosas e sardinheiras

vermelhas como o sorriso.

Na sombra das oliveiras

paz de térreo paraíso;

ver à distância o pinhal

ter pinhas, juntar caruma

ver no vento o caniçal

a baloiçar cada pluma.

Escutar ao amanhecer

e no decorrer do dia 

asas a enaltecer

as vozes da alegria.

Ter uma ovelhinha loura

mais uma cabra castanha

ser alegre como outrora

ágil, romântica, estranha...

ir às cores do sol poente

ou ao azul da manhã 

buscar o verso veemente 

cantar a vida aldeã.

Tornar a sentir-me gente.

Fraterna, amiga, pagã.

Ver na alvura da mesa

 pão para ser repartido

oferta da natureza

 em minha mão construído.

Ser a mesma gargalhada

expontânea, boa, sincera,

à frente ver ainda estrada

ser ainda primavera.

Dar o bom-dia a quem passa

no costume camponês

olhar o sol na vidraça

dia-a-dia mês a mês.

No dia tempestuoso

saber, na chuva inclemente

o segredo luminoso

do germinar da semente.

Ser feliz de amar a vida

ter o amor companheiro

que dá alegria à lida

à noite, o calor, o cheiro.

À lareira no serão

ouvir os contos antigos...

ao pé a família, o cão,

a voz doce dos amigos.

Ser vertigem sensual

mas com alma de menina.

Enfim, se eu tal e qual

na força de cada rima! 



Marília Gonçalves




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