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domingo, 29 de setembro de 2024

EGOCENTRISMO 1985

 

Paisagem tua

 

 

Que tempestade mora dentro de ti

que nem sabes reconhecer o dia

de sol

o que sabes das ondas

que há no mar do rochedo

dos areais dum barco

que sabes das mulheres que esperam

o pescador que partiu

ou da que viu partir para a guerra

o que foi sim

mas sem querer ir

Sabes sim sabes

sabes sem saber

ao de leve

mas por dentro de ti ignoras

conheces paisagens, sabes

o que é o luar sabes falar deles

sabes deram-te prazer

mas nunca te preocupaste

com eles nunca acrescentaste

uma nota ao canto duma ave

recebeste a ave cantava

tu ouviste cantar

embriagaste-te em seu canto

mas não criaste nada

nada fizeste para o cantar da ave

ser mais belo

as árvores eram frondosas

saboreaste a sua sombra

mas não alteraste nada do que estava

aproveitaste sempre

usufruíste integraste a paisagem

ou simplesmente a aproveitaste

ma nada lhe deste de concreto

não a regaste com teu pranto

não lhe deste um esforço

um soluço

nem lhe deste teu espanto

quando te voltas para trás

é de ti que tens saudade

mas nunca lembras

o que não fizeste

gesto esquecido

que não chegou a ser

e que hoje teimosamente

na tua cegueira constante

continuas a ignorar

a desrespeitar.

 

 Marília Gonçalves

              

 


 

 

 

       

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