sombra

 

Meus versos sentam-se à mesa

desta espera insatisfeita

à janela em sol acesa

há uma sombra que espreita.

 

Sinto asas que não voam

nascer-me no pensamento

asas-parto que magoam

o meu descontentamento.

 

Como é incrível o tempo...

paisagem que foi embora.

Nem sei se é todo cinzento

a prolongar-se na hora.

 

Como som repetitivo

de montanha pra montanha

o segundo, passa esquivo

na sua música estranha.

 

ou que voz de longe vinda

vem vestir-me o pensamento

de sombra. Sombras ainda...

 

Marília Gonçalves