Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024


 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

multiplico imagens

 

às vezes há palavras

que me faltam

sons que não vindimei

ideias que me assaltam

mas não libertei.

 

Fonemas que se  escondem

atropelam

palavras coladas na linguagem

verbos que a negar se rebelam

em miragem.

 

em vão me alongo

há vazio nós meus braços

quando a seara está por amadurar

multiplico imagens pelos traços

da poesia por inventar.

 

 

Marília Gonçalves


 

 

 

 

Teresa Veludo Brincadeirinha

 

 

 

Brincadeirinha
 
Não sou supersticiosa
Nao sou supersticiosa.
Lagarto, lagarto, lagarto!
bato na madeira três vezes,
não gosto de ver gatos pretos,
excepto se for o meu,
detesto o número treze,
mas confesso que me dá sorte,
entro sempre com o pé direito,
quando à frente não vai o esquerdo,
não creio em deuses e anjos,
pelo sim pelo não Vade Retro Satanás,
sou dextra na escrita,
costuro as cicatrizes com a outra mão,
não acredito nos santos da igreja,
rezo a Santa Bárbara quando troveja,
nunca brindo com um copo de água,
dá azar e não se cumprem os desejos,
prefiro um bom vinho tinto e com mais um
tudo é belo e perfeito,
bruxas são uma não existência,
todavia tantas vezes " parece que sou bruxa",
como uma dúzia de passas e faço barulho
para afastar mau olhado o ano inteiro,
nunca confiei neste ritual mas não vá
o tal do diabo vir por aí e tecê-las....
Nao sou supersticiosa, mesmo nada,
benzo-me três vezes em frente ao espelho!
 
Teresa Veludo 
 
(Direitos reservados)
Waterhouse



VENDAVAL -POEMA

 

VENDAVAL -POEMA


Cada poema tem o seu desígnio
Como carta de amor de folhas idas
Fiapo incandescente, água , limbo
Dúbio rumar sem bússola ,sem norte
A descobrir caminho
Mas o poema avança, porque sabe
A lei ignorada pela vida
Vai trepando granito, sebes, tarde
Tão tarde que se vê o antedito
Coração infantil é que ouve versos
Manancial de sede insatisfeita
Se vendaval desvia sons dispersos
Na criança poeta outra colheita
Irradia searas nos reversos
De cada dor colhida e insuspeita.

Marília Gonçalves

RECEITA

 


 
                                                                         AQUI

A um sonho perene

 

A um sonho perene
 
Afirma-me que existes
Que ainda és tu
O meu sonhar menino
Redivivo
Devolve ao olhar nu
A primavera
Do contemplativo
Diz-me que Março
É o mês de flores
Do riso
Da alegria
Da inocência
De infantis amores
E que é de novo o dia

Marília Gonçalves


terça-feira, 23 de janeiro de 2024

SOMBRAS

 

A casa de meus pais perdida há tanto

de risos e luar

de sol ardente

onde poisava meu olhar

contente

meu inocente olhar

alheio ao mal

que vem do sofrimento

meu terno e doce olhar

onde se via

sentir e pensamento...




Caíram noites sobre meu olhar

não noites como noites conhecidas

terríveis noites, noites sem sonhar

de monstros e de feras escondidas

noite sombria, noite de ameaça

onde todo o futuro se extinguia

Ó Noite do Terror que nunca passa

onde o nascer do dia não surgia


Foi uma longa noite repartida

por tudo o que é sensível e verdade

foi horrífica noite repetida

que gela o tempo e todo o espaço invade


uma noite de séculos, milénios

que ali em meio século se vivia

que abocanhava a arte, alunos, génios

noite que cada dia renascia

que cegava a palavra

ardia livros

tentava prender o pensamento

essa tremenda noite de agonia

quando até o tempo era cinzento.

Mas nas dobras da noite havia quem

alheio à realidade se escondia

e não via o pranto de ninguém

nem a terra e o luto que a cobria

foram tantos e tais esses vexames

tantas e tais afrontas se sofria

da negação da dor e sofrimento

que em cada Humano os astros implodiam

de ondulantes trigais à fome ao vento

e que em flâmulas a noite convertiam


caía aqui e ali um nosso  irmão

como um sol se desfaz no horizonte

à espera da partícula de pão

que se reparta a rir de monte em monte.





Por isso se ouvia opresso grito

brado puro que canta a Liberdade

num alerta que enchia o infinito

num ideal de Paz e igualdade


Marília Gonçalves





eco vago

 

Ali na funda noite

Ouve-se um grito

É teu? É meu? 

Não sei de quem será

Alarga no seu estrondo

É infinito

Pode ser o silêncio

O nunca dito

O que nunca alguém dirá.

Vertentes de mundos submersos

De densos nevoeiros que dispersos

Ainda ninguém viu

E se perdem em nós 

Que não nascemos

E nos procuram

Onde nunca os vemos

Perfurando o abismo

O insondável 

e estão naquele olhar de que perdemos

o eco vago do que conhecemos

Em bússola que gira e se dispersa

Desmagnetizada agulha

Que perversa

Nos perfura as réstias 

do aflito olhar.


Marília Gonçalves

 


 









segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Mozart em tempo de covid

 

Querida mana,

Como referi na nossa conversa telefónica aqui vai o link onde se pode ver a ópera integralmente é o seguinte:


e a crítica da revista Diapason:

Covid fan tutte 

continue de faire un tabac !


quarta, 27/01/2021, 14:23


para mim

O caule a for a raiz

 Po


r gemido de amor

Íntimo    fundo

 instante maior

ultrapassa quanta dor

que o amor gerou no mundo.

 

É só uma estrada aberta

 

Com gargalhada de sol

 

Um passo uma descoberta

 

Sobre a cidade deserta

 

Onde vibra um rouxinol

 

 

Quem trila na madrugada

 

Um só mês   de nome Abril

 

Acendendendo a mata a estrada

 

Do seu cantar juvenil

 

o trilo em luz se transforma

 

Luz que correu o Pais    


Livre de peias de norma

 

e de tão simples adorna

 

O caule a for a raiz

 

 

 

 Marília Gonçalves 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 


 




Foi um Algarve que não mais existe

 

Foi um Algarve que não mais existe
Mas que ficou em mim, voz de cristal
Um Algarve de mito de magia
De lendas, de areal
Um Algarve, perfume confundido
De alfarroba, amêndoas, de pinhal
Das figueiras de braços retorcidos
De cada laranjal
Um Algarve ainda tosco
Mas tão belo
Como é belo quanto é natural
Rústico Algarve
Dava gosto vê-lo
Na voz cantada do sul de Portugal.
 



KARLA E LAURA

                   

Tão queridas as duas maninhas!!!

Beijinhos do mano
 
Luís 

 

domingo, 21 de janeiro de 2024

O vento varria velame vencido

 

O vento varria velame vencido

Na força da água despertou o sol

O verde invectiva

As vozes da água

Memória e pavor  

Zunindo essa mágoa

O vento girava girava em redor.

 

A duna no vento

Despertava agreste

Furava nas peles

Onde a ousadia

Teimava em ficar

A derme dos anos

Curtia no vento

O bronze dos homens

Que vivem no mar.

 

Marília Gonçalves

 


 

 

 


Vous avez de l’humain

 

Vous avez de l’humain ce côté déplorable

de vouloir tout savoir sans effort et sans temps

Et d’en parler à tort élevant sur du sable

Un château que les vagues effacent en s’en allant


Pourtant ce sont vos craintes, humaine incertitude

Ce besoin d’être aimé et d’être reconnu

Qui dessinent vos lèvres sur de vaines paroles

Et vous donnent cet air absurde et incongru.


La nature de l’être est de rester soi-même

Laisser inaltéré l’enfant qui vit en nous

Pour cueillir au passage chaque parole éparse

Dans l’éclat de la nuit y faire fleurir la boue.


Amonceler, savoir et toute connaissance

Sans perdre pour autant le regard ébloui

L’héritage sacré venu de notre enfance

Semant sur chaque page l’extase de la vie.


Marilia Gonçalves   


l'artiste Edvard Munch




De Eros a Vénus

De Eros a Vénus

 

Se até interior pele é simpatia

se vertem água frutos de outra luz

se nasce em turbilhão a luz do dia

se os céus hoje  sangue eram azuis

 

Se as  mãos acenam gestos invisíveis

os olhos tocam paisagens nunca vistas

sobre colinas de formas indisíveis

tombando em corpos na febre das conquistas

 

Se o corpo traz a marca do levante

a perfurar o âmago do dia

a desfazer a hora deslumbrante

em que o vencedor ganhando, se rendia

 

Se houver nas bocas a espuma do combate

nos braços uma garra que detém

o dia entre laços de vazante

a ir sempre mais longe, mais além

 

Não procures respostas à pergunta

de quem quer perceber até ao dia

e vê apenas a gruta que te afunda

em fúria! Em temporais! Em poesia.