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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Carta a meus filhos





Carta a meus filhos

Hoje tudo parece difícil e doloroso, como se a sementeira do passado, tivesse falido, e não desse fruto.

De todos vocês, eu o pai e até a minha pobre mãe, não vejo em ninguém a vida tranqüila que desejaríamos todos! Tranqüila e alegre!

E pergunto-me o que falhou, eu e o pai? Causas únicas? Ou as forças das circunstâncias de que eu e o pai éramos ambos vitimas.

Hà pessoas, que são excelentes pessoas, tomadas uma a uma, e que juntas se podem tornar diabinho à solta.

Isso fez-vos sofrer, mas a nos também

Li em tempos sobre psicologia, que os filhos de que presenciam  problemas, estavam mais bem preparados para enfrentara vida. Na altura ler isso serenou-me e pensei mesmo, que as coisas dolorosas que se viviam, não deixariam marca negativa, mas uma aprendizagem.

No entanto a nossa vida foi inteiramente dedicada à vida familiar. Enchi a casa de gente e tudo era motivo de festejos, até os pequenos almoços em que os fazia saltar da cama, entusiasmada, para irmos às 7 horas à padaria e irmos de seguida tomar o pequeno almoço com os meus pais a casa deles.

Fiz tudo o que estava ao meu alcance, no que arrastava o pai, entusiasmando-o também por vezes, e pensei que toda essa alegria, era suficiente, para apagar o que de negativo e triste se pudesse viver

Dei-vos férias como raras crianças têm, no nosso meio social. Idealizei os vossos risos, sonhei as vossas gargalhadas, e julgava que tinha sido boa mãe.

Não calculava que toda a minha infelicidade, ia colar-se a mim como um defeito, que não me seria perdoado nunca.

Talvez me tenha enganado, muito jovem, na escolha que fiz, para a minha vida, e no entanto, dessa escolha é que vocês nasceram e estão vivos, Pelo meu lado tive os filhos do homem que amei, filhos por quem daria a vida sempre que preciso e tudo o mais que tenha, tive a sorte de dormir com o homem que escolhi para companheiro de vida, apesar dos desentendimentos

Hoje eu e o pai estamos velhotes, o nosso sonho voltar e morrer em Portugal, não vejo como poder realizá-lo e podermos fechar os olhos rodeados pelos filhos a quem demos a vida e todo o amor ao nosso alcance

Mas é verdade que arrasto comigo um dor terrível desde sempre, de nunca me ter sentido verdadeiramente amada, a não ser pelos filhos pequeninos e hoje pelas netas e penso que pelo meu Kiko embora estejamos sempre longe. Mas nisso a voz do sangue tem muita força.

Levarei comigo quando partir o desgosto da preferência da minha mae, que me deixou e deixa sempre para trás

A vocês amei-os por igual, com a mesma intensidade, com o mesmo carinho ternura, com a mesma vontade de vos ver felizes todos. Sem mínima sombra nas vossas vidas, nem nenhuma apoquentação, a que para meu mal não posso solucionar

Queria que penassem um pouco no que foi a vossa infância, no amor extremoso que vos tive

E que me perdoem ter sido aqui em França tão triste e infeliz.

Mas quero que se lembrem de quanto de bom viveram, no campismo, no barco, no Fialho, nas nossas cantoria no carro, na repetição das ida a Portugal em todas as férias.

Não guardem só o peso da vida, senão a minha vida foi inútil e tudo falhou

Lutem pela vossa alegria de viver com as vossas famílias respctivas

É a vossa alegria de viver e a vossa felicidade, que concretizará a minha vida

Por favor, lutem por alegria de viver com o vossos.

Beija-vos sempre terna

Vossa mãe

Lininha
Marília Gonçalves