Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

domingo, 15 de setembro de 2024

Por onde vais menina

 

 

Por onde vais menina

quando teus olhos te levam

pelo atalho esquecido

dos passos dados em vão.




A que certezas levantas


o acaso do instante


quando sem espanto te espantas


entre o sentir e a razão.


 

que carícias circulares

desenham as tuas mãos

quando esgatanham os ares

que vendavais te constroem

 quando te arrastam ao chão
é a ti que sempre encontras

quando te partes. Divides








é nos espelhos de pedra

que te moldas e progrides.


Marília Gonçalves 

 

 













Victor Hugo

 

"Je t'aime éperdument, et je te le dis, et je te le répète, et mes paroles te l'expriment, et mes baisers te le prouvent, et quand j'ai fini... je recommence. Je voudrais recommencer ainsi pendant l'éternité, et chaque soir, je regrette la nuit qui va s'écouler sans toi, et chaque matin, j'en veux au soleil de briller, comme aujourd'hui, quand tu n'es pas dans mes bras."

Victor Hugo

                                              


Olhar tépido

 

Olhar tépido no ramo




de novo invento sepulto




vértice verde na fronte




duma porta por abrir




vendaval folha levanta




e torna a deixar cair.








Marília Gonçalves 





     





Monto cavalos de prata

 

Monto cavalos de prata
Agarro crinas de vento
Minha égua desbravada
Salta barreiras de tempo
cascos a fender as nuvens
minha montada exultava
pássaro de fulgentes plumas
sobre seu dorso poisava.
Sobre a garupa de cinza
Meu corpo nu avançava
Como réplica da brisa
Ou nauta que mar levava.
Minha égua água marinha
Inebriante licor
Meu olhar nu te adivinha
Corolário aberto em flor.
Venci atalhos de frio
No teu valente arquejar
Meu cavalo corredio
Rio a procurar o mar.
O teu orgasmo de luz
Incendiou as estrelas
Numa explosão que seduz
Versos, pautas, aguarelas.
Contigo vôo e voando
Atinjo o êxtase enfim
Ó meu cavalo de prata
De asas abertas em mim.
Cavalgam pequenos potros
sem ânsia de bem ou mal
de tanto correr despertam
o instinto vegetal.
Uma poldra toda branca
na imensidão que é a noite
pariu aceso galope
entre águas, ervas, areias.
Era um vôo parecido
com um bibe de criança
erguido em nuvens azuis.
Na floresta adormecida
sobressaltaram-se breves
as folhas que pareciam
pequenas aves que leves
ao menor sopro do vento
mínimo silêncio triste
estremeciam no balanço
de braços mudos e verdes.
Mas em assomo surgido
lesto, inesperadamente
os potros foram partindo
filhos da luz e do vento
 
 
 
                      Marília Gonçalves 
 

 
Dominique Stoenesco
Mais um maravilhoso poema escrito num ritmo e num tom bem característicos da poesia de Marília Gonçalves.
 
Luis Filipe Ferreira Rios
Muito bom Marília. Bom domingo. Abraço.
 
Admirado em todo o Mundo, o Cavalo Lusitano é um Sonho Vivo
Marília
Marilia Gonçalves
Adoro o Cavalo Lusitano, poder precorrer veredas e atalhos através dos campos...

chorar em poesia

 

Choram lágrimas de dor

os olhos de toda a gente.

Mas chorar em poesia

só o poeta o consegue.

e fá-lo continuamente.

 

 

Marília Gonçalves 

 


 

 

Pra fazer o poema

 

Pra fazer o poema

além da imaginação

é preciso papel

uma caneta

que leve acaricia

como mão sobre pele

palavras em tropel 

Depois é preciso poesia

no instinto da forma.

A  poesia

entre mãos de poeta

não tem regra nem norma.

 

 Marília Gonçalves

 


 

 

 

Vida alegre sorridente

 

Vida alegre sorridente

há pouco ‘inda te sonhei

a pareceres tão distante

no momento do sentido

que sem ver realizei

o conceito concebido

numa pérola de leite.

 

 Marília Gonçalves

 

 

 


 

 

 

 

        

Vem a Primavera

 

Vem a Primavera

é a festa da cor

a paisagem de hoje

não lembra a que ontem era

tudo é vida, vigor.

 

Marília Gonçalves

 


 



 

 

 

Jacquou le Croquant (1899)

 

UGÈNE LE ROY


JACQUOU

LE CROQUANT

CalmannLévy.png

PARIS

CALMANN LÉVY, ÉDITEUR

3, RUE AUBER, 3


TABLE DES MATIÈRES

(ne fait pas partie de l’ouvrage original)

Pages

Eva

 

Demónio-  mulher- que nada!
desde Eva até aos ateus
sempre diabolizada
nos olhos de cada deus
que pela vida passando
apenas sabe de ti
aquilo que a noite aponta
mesmo se o dia sorri
só noite
a sombra é que vence
e nos encalces da história
cada Adão que por si pense
pensa em nome da memória
vê como no passado
mulher em vestes de medo
desfaz o dia sem glória
cultiva o verbo segredo
quando as Evas num grito
ainda lhe falam de amor
ouve ainda estridente apito
como pânico maior
e nunca a palavra é ganha
e nunca Adão se retrata
e Eva desce do tempo
e despe as vestes do nada.


 Marília Gonçalves








Só eu sei...

 

Só eu sei exactamente
o que tenho pra dizer
como uma sombra presente
surgida subitamente
na dor que me obriga a ser.
 
Ontem futuro passado
isto aquilo ou amanhã
só eu sei o que me é dado
ou se o que me foi negado
é a vida ou a morte vã.
 
Só eu poisada em meu dia
sei a asa que voei
se é loucura ou agonia
se raiva  se poesia
tudo o que de mim tirei.
 
Só eu sei porque estou viva
afinal, porque nasci,
pra libertária ou cativa
pra ser ardente, lasciva,
ou só mundo que perdi.


 Marília Gonçalves