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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Dizer medo é muito pouco

 

Aos que calando consentiram
 
Dizer medo
é muito pouco
quando segredo
murmura
num tom rouco.
Dizer medo
é quase nada
quando o mutismo
emprenhou
o ventre da madrugada.
dizer medo
é o início
muda justificação
da verdade narrativa
de quem traiu o seu chão.
Dizer medo
cobardia!
a tentar suavizar
a medida do mutismo
no tempo a não querer passar.
Cobardia! Cobardia!
Ante o olhar inocente
olhar que morto caía
por querer inventar o tempo
no olhar que dividia
pelo pão de tanta gente!
Homem que em frente seguia
mesmo se isoladamente.
Medo é pouco
mesmo nada
quando a hora é de unidade!
mas se deixa a solidão
tragar a força a vontade.
Medo é pouco
não convence
nem os mortos nem os vivos!
Só silêncio cobardia
deixaram fazer cativos
quem quis repartir o dia
com os próprios inactivos.
Cativos num país louco
a disfarçar em bondade
os hipócritas passivos
ao ver morta a Liberdade.
Cobardia disfarçada
em meio século de história
num país de mortos vivos
afugentando a memória.
dos direitos colectivos.
As prisões foram sofrendo
o grito dos lutadores
assassinatos enchendo
Portugal, de luto, dores.
Mas cada grito abafado
nas paredes da prisão
era um apito estridente
sobre a nossa negação.
Por isso há mortos mais vivos
que muitos muitos de vós
da história sereis cativos.
Dos mortos será a voz.
Porque desde o primeiro dia,
em que o fascismo venceu
por dentro dele crescia
o mês de Abril que o venceu.
 
Marilia Gonçalves.
 

 

esforço e a vontade.

 

Medo à hipocrisia

Pior ainda aversão

Cilada que vence o dia

E cala qualquer canção.

Deslealdade feroz

Mentira que vence em nós

Esse mundo da infância

Mudando o timbre da voz

Dessa tão pura fragrância.

 

Fugir como uma gazela

Da fera quando a encontra

Porque o felino esfacela

O coração duma pomba.

A tremer de solidão

Grita em nós o nosso irmão

A pedir-nos lealdade

Vamos estender-lhe a mão

Vencer em nós a maldade.

 

Um mundo espera por ti

Novo de luz que sorri

Perante tua vontade

Irmão ergue teu olhar

É permitido sonhar

Com o esforço e a vontade. 

 

 

 Marília Gonçalves