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quarta-feira, 17 de julho de 2024
Quietude de sons
Quietude de sons. Longínquo tic-tac
murmura tempo, a sua duração.
Tempo medida na continuidade
das estações. Dissiparam-se
apenas há instantes sombras
nocturnas e voaram.
Na clareira onde mora o dia
movem-se seres alados
Desvanece-se a gruta para
aonde sol poente se retira.
A claridade é a memória
da luz distanciada.
A memória germina,
toma forma de horas de silêncio.
Floresce. Alvorece a facetada luz
do novo dia. Cânticos tingem o ar.
Tons azuis elevam a luz à água
transparente. Diamantário estranho,
esse, que cinzela as faces da manhã.
O belo a elevar-se na voz de pássaros.
Árvores sacodem a fronde
no pensamento das folhas.
O vento é brando, leve.
Ondulação na seara do dia.
É colheita. Será pão na mó da lógica.
As velas do moinho estão abertas
em olhos de poeta.
Giram na compreensão
do lume da ideia. Hora matinal
a desconhecer a outra.
A que obscurece.
Marília Gonçalves
Cavalo do tempo
A trotar ponteiros
Quem sabe o momento
Dos tempos primeiros.
Quem trepa no dia
A sombra que foi
Na luz fugidia
Do tempo que dói.
Quem rasga o segredo
Da velha morada
Que abriga do medo
Que abriga do nada
Quem sabe o murmúrio
Que o tempo nos traz
Do fundo da era
De guerra ou de paz
Quem sabe o segredo
Na voz que se oculta
Entre o arvoredo
Da mente longínqua
A soletrar medo
Na névoa fecunda
Em densos mistérios
sobre a terra funda.
Cavalo do tempo
Picado nas horas
O teu movimento
A servir de esporas.
Cavalo, cavalo
Que não tem partida
Pró tempo a negá-lo
Na hora vencida
Cavalo, cavalo
À porta da vida..
Marilia Gonçalves

