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Quietude de sons

 Quietude de sons. Longínquo tic-tac

 murmura tempo, a sua duração. 

Tempo medida na continuidade

 das estações. Dissiparam-se

 apenas há instantes sombras 

nocturnas e voaram. 

Na clareira onde mora o dia

 movem-se seres alados

Desvanece-se a gruta para 

aonde sol poente se retira. 

A claridade é a memória 

da luz distanciada. 

A memória germina, 

toma forma de horas de silêncio. 

Floresce. Alvorece a facetada luz

 do novo dia. Cânticos tingem o ar.

 Tons azuis elevam a luz à água 

transparente. Diamantário estranho, 

esse, que cinzela as faces da manhã.

 O belo a elevar-se na voz de pássaros.

 Árvores sacodem a fronde 

no pensamento das folhas. 

O vento é brando, leve.

 Ondulação na seara do dia. 

É colheita. Será pão na mó da lógica.

 As velas do moinho estão abertas

 em olhos de poeta.

 Giram na compreensão 

do lume da ideia. Hora matinal 

a desconhecer a outra. 

 A que obscurece.

 

Marília Gonçalves


 

Cavalo do tempo

 

Cavalo do tempo
A trotar ponteiros
Quem sabe o momento
Dos tempos primeiros.
Quem trepa no dia
A sombra que foi
Na luz fugidia
Do tempo que dói.
Quem rasga o segredo
Da velha morada
Que abriga do medo
Que abriga do nada
Quem sabe o murmúrio
Que o tempo nos traz
Do fundo da era
De guerra ou de paz
Quem sabe o segredo
Na voz que se oculta
Entre o arvoredo
Da mente longínqua
A soletrar medo
Na névoa fecunda
Em densos mistérios
sobre a terra funda.
Cavalo do tempo
Picado nas horas
O teu movimento
A servir de esporas.
Cavalo, cavalo
Que não tem partida
Pró tempo a negá-lo
Na hora vencida
Cavalo, cavalo
À porta da vida..

Marilia  Gonçalves