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sábado, 29 de junho de 2024

o pai ao pé dum carcereiro...

Se soubesses o que é
para a criança
ver o pai
ao pé dum carcereiro
a saber que o pai
apenas ali està por amor
que tem ao mundo inteiro!
Se soubesses o que é para a criança
ver o pai ao pé dum carcereiro...
 
Marilia Gonçalves
 
 

 

sou!

 

Não posso escrever o que de mim esperam
mas o que sou!
Marilia

história da vida.

 

Uivam os ventos

da solidão

abrem-se gestos

fecha-se a mão.

O vento brame

gira insistindo

vêm as sombras 

adustas rindo.

Noite de medo 

de solidão

voam protestos

de minha mão.

A tempestade

vem espargindo

mil pensamentos

 de mim saindo.

Não há abrigo

pra quem perdeu

o seu amigo

por entre breu.


Doem as asas à noite escura

a pairar breves sobre a loucura.

Doem-me os olhos

gesto sem mão

nascem-me abrolhos no coração.


Nasce um poeta

a cada instante

como cometa

sempre constante

nasce um poema 

imensidão

parte a algema

da solidão.

Poeta versos

sonhos etéreos

andam dispersos

entre mistérios.

Afunda os olhos

 na poesia

liberta a alma

 da invernia.

Choras e cantas 

sempre a escrever

há sempre tantas 

formas de ver.

Nasce um poeta 

morre uma estrela

na voz secreta

de intima tela.


Luz alumia

a dolorida 

contraditória

história da vida.





cintilar por todos

 

Não quero ir ao fundo pensamento

procurar nele a névoa duma estrela

nem tentar aprisionar por um momento

angustiante certeza de perdê-la.


Deixei meu olhar vogar liberto

da luz inicial faminto ainda.

Encontrei-o sempre muito perto

cristalizar de forma que não finda.


Saltei sobre limites a fronteira

apenas encontrei água gelada

a cintilar azul de tal maneira


que minh’alma ficou aprisionada.

Por ali ficou a vida inteira

a cintilar por todos e por nada.




 

vendaval

 

Sou eu que acordo em mim cada manhã 

sou eu também que em mim própria adormeço

sou eu que vivo aqui

 para além

do vendaval do meu apreço

sou eu que me respeito, dilacero

sou eu de peito aberto, mas sincero

quem fecha ou abre a minha madrugada.

Sou eu que a rastejar pelos caminhos

me coroo de nuvens, de espinhos

cambaleante entre ser tudo e nada.

 

 


 




Olha, não vês,

 

Olha, não vês,

que diferente

é meu falar, meu sentir...

adormeceu para sempre 

a que em mim sabia rir.

Estou longe

a que distância

me encontro agora de mim?

Não há retorno à infância

no caminho para o fim.

 

 


 

Se uma janela

 

Se uma janela se fecha

às rosas que estão em flor

se é a escuridão que espreita

tornando o pranto maior

se o trinado perde o som

a terra perde o perfume

se o que ontem parecia bom

hoje queima mais que o lume

se há uma mão transparente

a apertar-te a garganta

sai prà rua de repente

e canta por favor canta.