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quarta-feira, 12 de junho de 2024
cinza dos dias ou pó
Deito palavras no solo
que o vento sul fecundou
ditas desde o desespero
fremente fruto que dou.
Leve
livre late o tempo
vermelho ou verde vem só
vai no mesmo movimento
cinza dos dias ou pó
Asa azul ou braço solto
toada tua tão perto
a cavalgar como potro…
Desfaz diáfana luz
inverte o tempo de tudo
as frases tornam-se azuis.
Marilia Gonçalves
NOIVOS LAGOA -SILVES-ALGARVE. 1967
25 de Março
1967
Meu coração de poeta nasceu em Lisboa um dia
Meu coração de poeta
nasceu em Lisboa um dia
numa cidade secreta
que há dentro da nostalgia.
Foi
feito de largos gestos
de pais, de tios e de primos
E d’emprestados avós
onde cresceu embalado
por pregões que ainda havia
nesse tempo ignorado
que a Liberdade mordia.
Meu coração de poeta
que me deu voz muito cedo
olhos e mãos e carícias
ia soletrando medo
no meu Pais de polícias
Mas coração de poeta
tem asas e lesto voa
pra de repente cair...
Minha cidade Lisboa
poeta do meu sentir.
Calçadas, pedras e ruas
Praça do Chile, Avenidas
Arroios e seu mercado...
Desdobravam-se-te vidas
no teu chão amordaçado.
Mas Lisboa era Lisboa
um coração a nascer
descobre que ainda voa
mesmo se lhe faz doer.
Voavam jornais dobrados
pelas varandas adentro
dos meus olhos que guardavam
a poeira que em bailado
estremecia na janela
entre a luz do cortinado.
Lisboa era muito mais
era o Jardim Constantino
onde bandos de pardais
ensinavam o menino
o ardina sem jornais.
Mas ia muito mais longe
Lisboa não acabava
prolongava-se no ar...
Nas corridas das varinas
chinelas a dar a dar.
Minha Lisboa de cegos
tocadores de concertina
de carros e de morangos
ou de ciganas que às vezes
passavam a ler a sina...
Minha Lisboa poeta
nos meus olhos de menina!
Marilia Gonçalves
Alameda D. Afonso Henriques
Fonte Luminosa
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