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domingo, 9 de junho de 2024

Catarina

 

Catarina de teu nome

ceifeira do Alentejo

o pão de hoje tem teu sangue

presente, vivo, a dizer

Catarina do futuro

que vieste do passado

pomba branca a adejar

o Alentejo tem cravos

nas pétalas a sonhar.

Foste um brado no caminho

que não mais há-de passar.

Foste semente de Abril

és mulher, memória, mar.

  Marília Gonçalves 




adejo

 

Presente eras a força

que invadia o desconhecido

maré claridade

seara acesa

ânimo e adejo purpurino. 


Marília Gonçalves 

 


 

Olhos mouros

 

Olhos mouros nos meus passos

sombra de memória antiga

distante como os abraços 

dessa Lisboa mendiga

do carinho passageiro

na efémera estação

que adormece a Primavera

nos perfumes do Verão.

 

Marília Gonçalves 

 



 

 

choram baços os meus olhos

 

Trago nos sonhos

Fontes e montanhas

Brancas cancelas

No meu jardim

Cortinas de rosas nas janelas

E uma pomba a esvoaçar dentro de mim


Mas por detrás dos sonhos

Trago sombras

Serpentes venenosas luzidias

Que trepam as alfombras

Nas paredes

E são a minha febre

E companhia


E choram baços os meus olhos

Enquanto o meu sonhar sorri à despedida

Eu vou pisando escolhos

E vou vendo

Aproximar o fim da minha vida.


Marília Gonçalves