Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

SOMBRAS

 

A casa de meus pais perdida há tanto

de risos e luar

de sol ardente

onde poisava meu olhar

contente

meu inocente olhar

alheio ao mal

que vem do sofrimento

meu terno e doce olhar

onde se via

sentir e pensamento...




Caíram noites sobre meu olhar

não noites como noites conhecidas

terríveis noites, noites sem sonhar

de monstros e de feras escondidas

noite sombria, noite de ameaça

onde todo o futuro se extinguia

Ó Noite do Terror que nunca passa

onde o nascer do dia não surgia


Foi uma longa noite repartida

por tudo o que é sensível e verdade

foi horrífica noite repetida

que gela o tempo e todo o espaço invade


uma noite de séculos, milénios

que ali em meio século se vivia

que abocanhava a arte, alunos, génios

noite que cada dia renascia

que cegava a palavra

ardia livros

tentava prender o pensamento

essa tremenda noite de agonia

quando até o tempo era cinzento.

Mas nas dobras da noite havia quem

alheio à realidade se escondia

e não via o pranto de ninguém

nem a terra e o luto que a cobria

foram tantos e tais esses vexames

tantas e tais afrontas se sofria

da negação da dor e sofrimento

que em cada Humano os astros implodiam

de ondulantes trigais à fome ao vento

e que em flâmulas a noite convertiam


caía aqui e ali um nosso  irmão

como um sol se desfaz no horizonte

à espera da partícula de pão

que se reparta a rir de monte em monte.





Por isso se ouvia opresso grito

brado puro que canta a Liberdade

num alerta que enchia o infinito

num ideal de Paz e igualdade


Marília Gonçalves





eco vago

 

Ali na funda noite

Ouve-se um grito

É teu? É meu? 

Não sei de quem será

Alarga no seu estrondo

É infinito

Pode ser o silêncio

O nunca dito

O que nunca alguém dirá.

Vertentes de mundos submersos

De densos nevoeiros que dispersos

Ainda ninguém viu

E se perdem em nós 

Que não nascemos

E nos procuram

Onde nunca os vemos

Perfurando o abismo

O insondável 

e estão naquele olhar de que perdemos

o eco vago do que conhecemos

Em bússola que gira e se dispersa

Desmagnetizada agulha

Que perversa

Nos perfura as réstias 

do aflito olhar.


Marília Gonçalves