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domingo, 14 de janeiro de 2024

No meu braço menino tua mão


                                                 

A casa o jardim a árvore em flor

Descoberta sentido do tremor

De frio de quente

Tudo se harmonizava

Ininterruptamente

O mar era em mim a emoção

No meu braço menino tua mão                                                                                                                          

Falava linguagem nunca ouvida

Estremunhado despertar do espanto

Tu eras a canela, eu lírio branco

Na inocência ingénua de saber

Que ali à beira-praia era o encanto

Tua mão poisada no meu braço .

ˑNa menina nascia uma Mulher.

 

Marília Gonçalves

 


 

A tua mão branca fina

 

Que saudades avózinha

dos contos que me contavas

quando eu ainda menina

nada sabia do tempo

e soltava minhas asas

entre sonho  pensamento.

Na tua voz me embalavas

os contos brandos macios

na voz em que mos contavas

era entre grave, serena.

A tua mão branca fina

poisava sobre a morena

cabeleira da menina.

 

Sentada numa cadeira

feita por teu irmão Zé

que conhecia a maneira

de transformar de moldar

com arte, sabedoria,

dos que domam a canseira

a fazer de noite o dia-

sentada nessa cadeira

teu conto era mais verdade

havia na brincadeira 

algo de seriedade.

 

No agrado de meus olhos

ao sorrirem para ti

não inventavas passado

 e o futuro era ali.

 

Presa nas tuas palavras

no azul que havia em ti

brincavam as tranças loiras

que ainda tens na memória...

teu conto era a vida inteira 

tua vida, minha historia.

 

Os anos foram passando

mas vejo o mesmo sorriso

a pairar sobre meu leito...

Meu pequeno paraíso

no teu quarto branco estreito

onde havia o mais preciso.

 

Ainda hoje estás sentada

na mesma eterna cadeira

embalo da meninice 

a minha vida primeira:

A ternura do sorriso

que voltavas para mim

transportou-me a sábio mundo

onde o sonho principia

e começa o imaginário.

 

A volta do tempo ido

é que me trouxe ao que sou

entre o riso ou o gemido

o meu olhar não mudou.

 

Vejo tua mão na minha

acariciares-me a testa.

 

Ó minha querida velhinha

ser menina era uma festa.

Agora mulher e mãe

a tua lembrança doce

o teu vulto ao pé de mim

constroem meu dia de hoje...

A fazer-me ser assim!

 




 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para Quê

 

 Para Quê

 

Pra quê falar de ti, se não mais tu

pra quê dizer agora, se não já

pra quê falar de mim sem coração

pra quê dizer sempre, se mais não?

 

Pra quê dizer connosco, se não nós

pra quê dizer juntos, se tão sós

pra quê dizer falarmos, se não voz?

 

Pra quê, pra quê, pra quê, se não é nada

se no sorriso começa cada história

para vir a ser silenciada.

 


 

 

Marília Gonçalves