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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

A noite instalou-se na paisagem

 

A noite instalou-se na paisagem

 

A noite instalou-se na paisagem

Sobre ela ficará por umas horas

Tu segues pela estrada que desfila

Na escuridão procuras Poesia

Também eu a procuro

Viveu sempre a meu lado

Viveu dentro de mim

Pois ainda assim

Apesar dessa luz

Que desperta a manhã

até ao sol poente

Não sei dizer quem é a Poesia

Exatamente



Sei que por vezes há horas de colheita

E quando vou quase adormecer

A Poesia à espreita

Não se deixa esquecer

E mantém-me desperta

A janela da alma bem aberta.



Sei que por vezes em momento estelar

Onde sonho em fusão

Confunde Poeta e Poesia

E abraça-se aos dois

é só nesse momento

Nesse preciso instante

A Poesia risca traços de levante

e tudo rodopia

a noite sai e passa a ser o dia


o sorriso, num tropel de lágrimas

tenras folhas de árvores

 seiva que lhe embebe a raiz

Começam a ditar pela noite fora

Róseos versos de aurora

A matinal a que é sempre menina

A que nunca envelhece

Mesmo quando o sol desaparece

alheia à visão que me perturba

transfigura

A Poesia é clara

silêncio a trepidar na noite escura



Fico a contemplar o verso escrito

Como se pó de estrelas varrendo o infinito

Viesse a descair em linha recta

Sem saber se a escrita ali nascida

É o sangue da vida

Ou sangie de poeta

E nesse almejar de inventores

Como se ouvisse o rufo de tambores

A noite ali desperta

Não sabe quem escreve

Se é o poeta ou se é a poesia

Qual dos dois escreve o outro

Saltam versos em fusão

Desse grito de chão

Sob cascos de potro.





 

Quand le vent tournoyait

 

Quand le vent tournoyait


Que de temps est passé

Sur la pâleur des vagues

Quand le vent tournoyait

Effaçait sur le sable

Des baisers à l’ardeur

D’un miroir sans revers

Où l’eau étincelante

Griffonne chaque vers.



Le temps passe pourtant

Mais le trouble se fige

Toujours se réduisant

Se refusant encore

Il burine le jour

Et tel un météore

S’enfuit, luisant et beau

Ensemençant le bleu

D’étoiles en pléiade.

Face au regard ébloui

Qui poursuit la cascade.


Marilia Gonçalves





terrível aniversário

 

24 de Novembro 1967/2009

(acabou 6 meses depois pela morte do bebé) 

 


É um pesado terrível aniversário


jovem de dezanove anos, jovem casal de há meses. Casamento de amor


Quando soube que estava grávida, a jovem encontrava-se face à médica. Ninguém a acompanhava.Numa alegria impetuosa foi com esforço que não se abraçou à médica.

Um filho! um filho do Amor!

A médica não muito jovem sorria 

compreensiva.

E não ter ali ninguém 

naquele momento..

.alguém que conhecendo-a bem 

pudesse saber tudo o que sentia, 

de alegria de entusiasmo de ternura

 e de confiança no futuro!

 

Um filho dos dois, e a aliança ali,

 no dedo como testemunho desse 

elo que os tornava cúmplices unidos

 e amigos para a eternidade

Ninguém para lhe gravar o sorriso 

donde transbordava o amor sem fim

 e essa crença no género humano 

de que é prova a vinda ao Mundo de um filho!

o Mundo e um mundo de amor

 no seu ventre

saiu do consultório com 

o filho pequenino ainda embrião 

a fazer-lhe companhia!

A tarde estava cheia de sol,

 alegre como ela, como a querer

 compartilhar o mesmo estado físico

 e o mesmo estado de espírito. Fiel retrato.

Jovem Mulher a ver nascer a mãe.

 

Marilia Gonçalves

 


PICASSO Pablo - Lithographie "Maternité, Femme et enfant