Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

terça-feira, 10 de setembro de 2024

golpe de asa

 

Vim por caminhos estranhos

uma sombra que me assusta

desliza entre rebanhos

na noite estival adusta.

Uma árvore secular

estende braços escurecidos...

ao longe o mocho a piar

mais perto ouvem-se balidos,

além, água a saltitar...


Prossigo no meu caminho

a tactea-lo co’o pé

se cair no ribeirinho

nunca mais ninguém me vê!


Contam... que há nesse fio d’àgua

aquático castelo

todo de renda e de mágoa...

mas quem se aproxime a vê-lo

não volta ao mundo concreto

não vê mais a luz do dia...

no esconderijo secreto 

pra sempre desaparecia.


Há nesse estranho castelo

de beleza sem igual

seres de forma tão irreal...

não são homens nem mulheres 

téem corpo musical.

Fazem do brilho diurno

todo o esplendor que os enleva

há no ribeiro nocturno

luz do sol rasgando a treva.


Todos fogem à beleza

por saber não voltar mais

mesmo sabendo que eleva 

ao cume dos ideais.


Vou andando devagar

a casa afasta-se ao longe

tenho pressa de chegar 

na paisagem que me foge!


De repente solto um grito...

navio quebrando as amarras

fazendo ouvir um apito...

ao longe ralos cigarras.



Acordo subitamente

estou deitada no meu leito

sopro angustiadamente:

foge-me a garra do peito.

Estou na minha velha casa

nem dela tinha saído.


Foi o sonho o golpe de asa

a levar-me ao não vivido.

 

         Marilia  Gonçalves

 


 

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário espera moderação