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sábado, 28 de setembro de 2024

andorinha sou

 

Era então uma menina

lembro-me bem....

teria merecido outra vida

escolhida sei la por quem

porque esta que me desagrada

me agrava e incomoda

fui eu quem a escolheu!...

por isso meu engano tem silêncios

rarefeitas palavras nuas frias

onde mergulham  sonhos velhos perdidos

palavras para quê para quê metáforas

a única verdade que se inscreve

é a realidade  são os factos

contra os quais nem pode o tempo ou eu.

Tentada que esteja em dizer minha culpa

aqui d'el rei, ai que me mata a minha própria ignorância

agora distante da infância bato com a mão no peito

do mal que a mim me fiz

tanta inocência tão convicta

maldita adolescência que nos grita

o que julgamos na verdura saber

e vamos vegetar a vida inteira

pendurados na pernada rasteira

que nada deixa ver

ai quem acode à minha meninice !...

quem diz o que calei

quem foi que o disse

aqui ao coração da minha porta

e eu não quis ouvir

nunca se quer consentir  criança

quando se  olha crescer

o universo sempre desconhecido

apenas um murmúrio muito lento

vem mostrar ainda o movimento

dos versos que me furam o ouvido

ai quem pudera ainda ser menina

voltar a não saber

ter ainda tempo

olhar a  gargalhar asas de vento

e confiar.... confiar outra vez

ser a mesma candura o mesmo franco riso

desenhar ainda em mim o paraíso

 e ver-me ser mulher

poisa nas minhas mãos a madrugada

vou a caminho de mim

não sou mais eu

apenas o fantasma transparente

que ninguém vê

que chora ri e sente

sempre o mesmo porque..

Sou hoje uma andorinha breve

filha da primavera

com asas de escamas  luminosas

 braços de algas distantes a acenar

o tempo...é isso que me falta

e o pensamento triste que me assalta

nunca me pertenceu

è um pensamento colectivo

que se reparte porque nele vivo

com perfume de pão e de todas as hortas

um pomar de risos de  laranjas

que são sumo

sobre os lábios dos dias do meu rumo

esvoaçam os pardais ....

ai, andorinha sou

asas de lume

e da distância vem

doce o perfume

da terra-mãe.

 

Marília Gonçalves 

 

 



 

 

             

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