Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

sábado, 10 de agosto de 2024

repartir

 

O sol pintava os vidros da janela

em tintas de oiro

e arpas de marfim

desferiam o tesouro

desse primeiro amor

que trago em mim,


Mãe, noutro Outono poente

eu lia para ti

mas passou todo um ano

quando então revi

as primaveras, as flores

o nosso riso

e gargalhadas de meu pai

atravessando os montes

dos olhares joviais

a juventude, ali fazia ninho

e nos parecia eterna

o colorir dos montes

falavam-nos do canto

das encantadas fontes,


Oh mãe, quanta água cintilante

cantava para nós

pelo Abril distante

cantando em nossa voz,


A Primavera nos Campos

Opera de tua lavra

vinha dos doces montes

entrava-nos em casa

e as aves cantavam

no teu cantar que jovem

ficou em tua voz

e ainda há dias

na tua voz jovial

cintilavam as fontes

dos nossos velhos montes


Mas adormece mãe

dorme serena

que a menina pequena

que sabia rir

desfaz a cantar

a dura pena

por saber-te a partir

e se acaso o olhar de meu pai

vier espraiar o teu

diz-lhe nessa ternura

que foi o nosso lar

para sempre perdura

todo o vosso sentir

todo o vosso pensar,

Semeastes em nós

aquele eterno Abril

que floresce no pão

e meu irmão e eu

em acesa consciência

saberemos pra sempre repartir

o pão da nossa mesa,


Marília Gonçalves 

 


 

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário espera moderação