Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Alicerces Teresa Veludo

 

Alicerces 
 
Os alicerces da 
 minha casa
são feitos de raízes,
raízes fundas do norte agreste
bebendo água do rio que sempre corre,
as paredes essas são socalcos de xisto,
das janelas vejo Franças e outros mundos,
nas mãos calejadas enchadas de dor,
velhos barcos navegando o vinho.
Lá onde não há relógios e o sol
marca o compasso do tempo,
as águias tudo vêem no seu voo
rasgando penhascos e montanhas altivas.
Nasci num Maio ao acaso
nas margens verdes das águas bravas,
senti o frio cortante do isolamento,
noutro tempo, outras fomes.
Já fumega o comboio, já se ouve o chiar
da bicicleta do carteiro, a corneta da carrinha do peixe,
chicharro do grande, sardinha seca,
rabos de bacalhau que é um luxo,
o Sr. Joaquim tem galinha para a menina
comer uma canja que anda desmedrada,
dizem que quer partir para longe...
que este rio não lhe basta,
sofre de tristeza e ninguém conhece a razão,
escreve versos à noitinha e chora desalmada.
Os alicerces da minha casa são raízes,
tão fundas que vão até à lonjura do mundo,
quiz ver para onde corria o rio sempre tão cheio
e saber a cor do mar onde diziam se perder,
partir, partir para lá das montanhas,
abrir o azul dos meus olhos nos horizontes
que só se abria em espanto em noites de sonhos.
 
 
Teresa Veludo 
 
Livro No Ventre do Silêncio
Peter Graham, Ernst Walbourn
 


 

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário espera moderação