Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

domingo, 30 de junho de 2024

Chove tanto em Paris

 

Escrito agora mesmo:
 
Chove tanto em Paris
Chove tanto em Paris!
O céu escureceu e os poetas
refugiaram-se na Île de St. Louis,
gritam poemas em cólera
para o Sena e choram de vergonha,
ecoa o som de botas cardadas
no Arco do Triunfo,
outra vez como se não houvesse
memória,
só Ingrid Bergman se veste de
azul,
Montmartre tapou as pinturas,
panos negros sobre as janelas,
ai meu Quartier Latin,
meu sonho,
minha luta esquecida nas vielas
esconsas,
meu Maio tingido de invernia e
sombras.
Chove tanto em Paris, meu amor,
hoje sinto-me estrangeira.
 
 
Teresa Veludo
(Direitos reservados)
 

 

 

 


ideia na palavra

 

Desenho a ideia na palavra

desenho a palavra no papel

luz e sombra que desbrava

o ritmo da pele.

 

 


 

a menina

 

O mar na areia soava

quando a menina o olhou...

Não sei o som que entoava

quando a menina cantou.


O mar na areia rolava

quando a menina cantou

não sei que canção soava

no silêncio que a escutou.


O mar na areia espumava

quando a menina calou.

Não sei que som se ocultava

na voz do mar que rolou.


O mar na areia quebrava

menino sonho voou...

Sei que nunca mais voltava

à asa que se afundou.



 

Portugal é um jardim

*


Nos meus olhos Portugal

é um jardim permanente.





 

sábado, 29 de junho de 2024

o pai ao pé dum carcereiro...

Se soubesses o que é
para a criança
ver o pai
ao pé dum carcereiro
a saber que o pai
apenas ali està por amor
que tem ao mundo inteiro!
Se soubesses o que é para a criança
ver o pai ao pé dum carcereiro...
 
Marilia Gonçalves
 
 

 

sou!

 

Não posso escrever o que de mim esperam
mas o que sou!
Marilia

história da vida.

 

Uivam os ventos

da solidão

abrem-se gestos

fecha-se a mão.

O vento brame

gira insistindo

vêm as sombras 

adustas rindo.

Noite de medo 

de solidão

voam protestos

de minha mão.

A tempestade

vem espargindo

mil pensamentos

 de mim saindo.

Não há abrigo

pra quem perdeu

o seu amigo

por entre breu.


Doem as asas à noite escura

a pairar breves sobre a loucura.

Doem-me os olhos

gesto sem mão

nascem-me abrolhos no coração.


Nasce um poeta

a cada instante

como cometa

sempre constante

nasce um poema 

imensidão

parte a algema

da solidão.

Poeta versos

sonhos etéreos

andam dispersos

entre mistérios.

Afunda os olhos

 na poesia

liberta a alma

 da invernia.

Choras e cantas 

sempre a escrever

há sempre tantas 

formas de ver.

Nasce um poeta 

morre uma estrela

na voz secreta

de intima tela.


Luz alumia

a dolorida 

contraditória

história da vida.





cintilar por todos

 

Não quero ir ao fundo pensamento

procurar nele a névoa duma estrela

nem tentar aprisionar por um momento

angustiante certeza de perdê-la.


Deixei meu olhar vogar liberto

da luz inicial faminto ainda.

Encontrei-o sempre muito perto

cristalizar de forma que não finda.


Saltei sobre limites a fronteira

apenas encontrei água gelada

a cintilar azul de tal maneira


que minh’alma ficou aprisionada.

Por ali ficou a vida inteira

a cintilar por todos e por nada.




 

vendaval

 

Sou eu que acordo em mim cada manhã 

sou eu também que em mim própria adormeço

sou eu que vivo aqui

 para além

do vendaval do meu apreço

sou eu que me respeito, dilacero

sou eu de peito aberto, mas sincero

quem fecha ou abre a minha madrugada.

Sou eu que a rastejar pelos caminhos

me coroo de nuvens, de espinhos

cambaleante entre ser tudo e nada.

 

 


 




Olha, não vês,

 

Olha, não vês,

que diferente

é meu falar, meu sentir...

adormeceu para sempre 

a que em mim sabia rir.

Estou longe

a que distância

me encontro agora de mim?

Não há retorno à infância

no caminho para o fim.

 

 


 

Se uma janela

 

Se uma janela se fecha

às rosas que estão em flor

se é a escuridão que espreita

tornando o pranto maior

se o trinado perde o som

a terra perde o perfume

se o que ontem parecia bom

hoje queima mais que o lume

se há uma mão transparente

a apertar-te a garganta

sai prà rua de repente

e canta por favor canta.


 





sexta-feira, 28 de junho de 2024

caminho

 

Adormece uma flor no pensamento

ou são praias azuis ao vento leste

acenar em brando movimento

trazem da intima seara que me deste

esse estranho perfume de erva amarga

que envolve leve o ar, em ténue véu.

Mas não há semente que me traga

o caminho que em tempo foi o meu.

 

 


 




Defendeu ontem o seu Mémoire e teve (nem podia deixar de ser) a mais alta nota; um A.

 

Amigas e Amigos .
A minha neta Katia Mendes de Castro que está na fase final do curso de Arquitectura Defendeu ontem o seu Mémoire e teve (nem podia deixar de ser) a mais alta nota; um A.
nas mãos desta garota, aqui em França, Portugal, pode orgulhar-se desta sua filha. E a família também. Parabéns Katia Mendes de Castro.Obrigada minha querida Katia. Beijinhos sem fim.
A tua Vojinha.
Marília Gonçalves 
 

 

quinta-feira, 27 de junho de 2024

 

Rastejo na tua pele

luz de febre

voz de mar

e sinto sede do teu olhar.

 

Alegra-se a noite

há magia, encantos e perfume

enquanto procuro a tua mão

nos meus lábios de lume. 

 

 


 


voz a luzir

 

Como frase suave

ou poema candente

tudo o que digo, sente.

 

Ergo a voz à estrela d' alva

vinda desde a escuridão

como se cada palavra

fosse mais que luz ou pão.

 

Sento-me à beira da estrada

a ver passar o caminho

há tanta gente parada

que parecemos não ser nada

além de mundo sozinho.

 

Nem um gesto nem aceno

cortam a voz a luzir

cada um de nós tão pequeno

no universo por abrir.