HE
O Sonho do cão cativo Que sonha o cão na manhã de maio que sonha triste de alegre viver que sonha o cão quando a companhia da voz amiga já não torna ser. Que sonha o cão quando atrás de grades contempla o céu ainda tão azul que sonha o cão se desenha os ares a ave loira dos campos do sul Que sonha o cão quando a água clara sabe à prisão que não deixa mais que sonha o cão se a manhã aclara ou quando à noite se acende o trovão Que sonha o cão quando ouve inda festas na melodia do sonhar perdido que sonha o cão se pelas florestas vagueia o lobo livre perseguido que sonha o cão quando a mão que afaga o larga vil, num pobre caminho que sonha o cão a correr a estrada cheirando o ar do velho carinho Que sonha o cão quando as aves cantam a solidão do jardim florido que sonha o cão se os olhos se espantam a relembrar o tempo perdido Que sonha o cão quando a voz que soa traz à lembrança o seu velho afago ah como a vida era meiga e boa quando brincava nas margens dum lago Que sonha o cão quando o mar exalta as mil viagens que não mais fará que sonha o cão quando o medo assalta pela família que não mais verá Que sonha o cão quando a hora chega de repetir o sabor do pão que sonha ao cão que desassossega o seu olhar ao ver uma mão Que sonha o cão quando tristemente os dias caem sobre sua voz olhando o longe onde antigamente era cachorro chamando por nós Que sonha o cão quando só pressente a solidão para além do dia que sonha o cão, com o dono ausente aquele dono por quem morreria! Marília Gonçalves
|

Sem comentários:
Enviar um comentário
O seu comentário espera moderação