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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Marilia Gonçalves Associada ASM

 


 
DOS TEMPOS SOMBRIOS AO VERMELHO DO CRAVO


Era noite, treda noite
Nas malhas da escuridão
o estalar do açoite
Cada caminho aflição
Nem pálida luz se via
Nem cintilar d’emoção
Nem um pipilar se ouvia
No longe ladrava o cão.
O ribeiro que cantava
Certas noites de luar
Ali a voz que calava
Mais lembrava a voz do mar
Quando se lança aos penedos
A rugir como trovão.
Nesse desenho sombrio
Que apavora o caminhante
O vento sob repuxo
Volúvel gira constante.
Na terra ninguém se via
Que a tal pudesse valer
De longe a fímbria do dia
Teimava ainda em não ser.
De quantas noites houvera
Desde idades bestiais
Nunca ninguém conhecera
O horror de noites tais.
Ameaça circundante
Envolvia campo e lar
Chorava ao seio a criança
Fugia o gato a miar.
Houve no terror do tempo
Quem fosse semear dia
As pobres casas tremiam
Entre mãos de ventania.
Aqui ali pelo chão
Manchas escuras gemiam
Onde o abutre espreitava
Cada força que caía.
Moravam dentro da sombra
Seres ainda mais sombrios
Todos tecidos em medo
Sobressalto de pavor.
Meu Deus, que noite comprida
A estender-se tempo fora
Alimentada por vida
Em ódio à luz da aurora
Tal como se não bastasse
Essa horrenda escuridão
Fizeram grutas esparsas
Guardadas por um dragão
Bicho-de-sete-cabeças
Em cada uma delas tinha
Uma boca de serpente
Donde veneno saía.
De tal modo repelente
Sujo, ameaçador
Tinha garras recurvadas
Prontas a cravar no dia
As espadas afiadas
Que o povo a sangrar temia.
Parecia a todos que a noite
Nunca mais acabaria.
Estalava firme o açoite
Sobre o dorso que se erguia
Fosse de dia ou de noite
A Fera horrenda mordia.
Foi o tempo prosseguindo
Anos formavam em décadas
O olhar do ser humano
Erguido caia em terra.
Mas tantas vezes caiu
Que aprendeu a reerguer
Desse seu corpo dorido
A força para vencer!
Ficaram pelos caminhos
Valentes d’entre os valentes
As aves fugindo aos ninhos
Enfrentavam as serpentes
Décadas forma passando
A escuridão prosseguia
Mas o sangue semeado
Secava e refloria.
Em cada dor aprendia
O gesto a não repetir
Ao longe a luz que surgia
Era flâmula do porvir.
Homens e Mulheres de pé
Crianças Adolescentes
Formavam onda e maré
Oceano em novas gentes.
Até que um dia, em que a luz
Assinou o pacto humano
E corações seminus
Gritaram nem mais um ano
Nem mais um dia
E então
Portugal floriu em Cravos
Era o fim da aflição
Portugal cheio de bravos
Rasgou a noite do luto
Soldados o Povo e Cravos
Num novo dia impoluto
Derrubaram os agravos.

Marilia Gonçalves
Associada ASM

João Andrade da Silva e Salgueiro Maia
dois HOMENS de ABRIL


JSS

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