Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Poema-E o dia que nascia Crescia na sua mão.

 

A mulher confinada

Confinou-se

Na sua confinação

Todo o passado que trouxe

De quando não tinha não

Se avolumava crescia

Dentro duma opinião

Que no íntimo envolvia

Desde tripa ao coração

Mas a mulher não sabia

Que ia parir novo não

E o dia que nascia

Crescia na sua mão.

Mãe mão na fome de tantos

Mão que semeou o pão

Amassado por seus prantos

Orvalho seco no chão

Desde a voz duma ceifeira

Levando um filho pela mão

E que bala traiçoeira

Amandou inerte ao chão

Um murmúrio longo e lento

Percorreu a planura

Como arrepio que despisse

A sombra da noite escura

Esse murmúrio sentido

Atravessava milénios

Com a força dum gemido

Ou voz calada de génios

Do sangue duma ceifeira

Um sangue internacional

Nascia a nova bandeira

Opondo o bem contra o mal

O bem, sim, porque não dói

Não mata nem faz sofrer

Enquanto o que é mau corrói

E não nos deixa viver

Usemos pois a palavra

Com o sentido que tem

Sobre terra que se lavra

Só porque o sabemos bem.

Quando o gosto é sem desgosto

E nunca provoca dor

Radioso sol de Agosto

gargalhada sem amor

Que ser mulher é mais forte

Que malévola intenção

Que vence a sombra da morte

Ao grito de sua mão.

 

Marilia Gonçalves


 

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário espera moderação