Mas meu grito é de ternura

 

à Humanidade

As janelas transformaram

a paisagem donde vim

agitaram-se voaram

nas viagens que há em mim.

Frutificaram os rios

seiva estranha mineral

a desenhar os navios

na cidade de cristal.

Sobre a mesa adormecida

há sonhos por descrever

colheita tinta perdida

desejo de perceber.

Avanço devagarinho

na vidraça incandescente

o chão é rude maninho...

Um só traço é atropelo

de palavras a arder

neste contraste do gelo

que deixa aos poucos de ser.

Longínquo som me procura

vai aonde outros sons vão.

Mas meu grito é de ternura

misto de amor e de pão.

É meu grito universal!

Peço justiça somente.

Humanidade afinal

és filha de toda a gente.

 

Marilia Gonçalves