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quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Dizer medo- NÃO

 Dizer medo

 

Dizer medo 

é muito pouco

quando segredo

murmura 

num tom rouco.



Dizer medo

é quase nada

quando o mutismo

emprenhou

o ventre da madrugada.



dizer medo

é o início

muda justificação

da verdade narrativa

de quem traiu o seu chão.



Dizer medo

cobardia!

a tentar suavizar

a medida do mutismo

no tempo a não querer passar.



Cobardia! Cobardia!

Ante o olhar inocente

olhar que morto caía

por querer inventar o tempo

no olhar que dividia

pelo pão de tanta gente!

Homem que em frente seguia

mesmo se isoladamente.



Medo é pouco 

mesmo nada

quando a hora é de unidade!

mas se deixa a solidão

tragar a força a vontade.



Medo é pouco

não convence

nem os mortos nem os vivos!

Só silêncio cobardia

deixaram fazer cativos

quem quis repartir o dia

com os próprios inactivos.



Cativos num país louco

a disfarçar em bondade

os hipócritas passivos

ao ver morta a Liberdade.



Cobardia disfarçada

em meio século de história

num país de mortos vivos

afugentando a memória

dos direitos colectivos.



As prisões foram sofrendo

o grito dos lutadores

assassinatos enchendo

Portugal, de luto, dores.



Mas cada grito abafado

nas paredes da prisão

era um apito estridente

sobre a nossa negação.



Por isso há mortos mais vivos

que muitos muitos de vós    

da história sereis cativos.

Dos mortos será a voz.



Porque desde o primeiro dia

em que o fascismo venceu

por dentro dele crescia

o mês de Abril que o venceu.



Marilia Gonçalves

 


 


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