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terça-feira, 10 de abril de 2012

Ser




Desse desprezo geral por quem é pobre
Maior que a indiferença  mais dorida
É toda esta tristeza que me encobre
Dos olhos de quem sou desaparecida

Tornei-me um ser volátil que evapora
 de si a cada instante a alegria
Eu que era a gargalhada tão presente
Eu que era água   aragem   luz do dia

Hoje sigo caminho e não sou eu
No que eu tinha de vívido e vibrante
Dentro de mim o dia anoiteceu
Sigo vagando       mas outra caminhante.

Não é ser pobrezinha que me ofende
Porque a nuvem que passa é também minha
É minha a floresta que me prende
Ao som de cada voo de andorinha.

É meu cada caminho     cada estrada
O fio de água que cai e tudo encanta
Cada trilho de luz       cada alvorada
Solta da ode de límpida garganta.
Como posso ser pobre se meus versos
São fruto deste puro encantamento
De descobrir no pó os universos
Que me desenham cada pensamento.

Mas a consternação, que nunca passa
Ao contrário do vento esvaecido
Vinda de ti constante em ameaça
Porque veres do que não sou meu eu banido.

               Marília Gonçalves

                                                                                                                                                                           







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