| |||||||
Páginas
▼
Páginas
▼
Páginas
▼
Páginas
▼
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
CGTPCGTP
João Villaret
João Villaret foi um grande ator
e um
inigualável declamador,
que enchia salas de espetáculos
declamando poesia e
falando de poetas,
sem nunca olhar para um
papel.Morreu no dia 21 de Janeiro, há 50 anos.
Alguém se lembrou de criar um site dedicado a ele.
Conta ainda com pouca coisa,
mas que merece ser visitado e, claro, ouvido.
Sugiro, para começar, alguns curtinhos.
Mas, claro, ouvi-los todos é fantástico.
http://jvillaret.com.sapo.pt/
- Adivinha
- Balada da neve
- Fado falado
- Liberdade
- O menino de sua mãe
E o incontornável...
- Cântico negro
Consta que após a leitura deste poema,
no Teatro de S. Luís, recebeu uma ovação
ininterrupta de perto de 30 minutos,
que constitui ainda hoje um record nacional
em qualquer tipo de
espectáculo.
Para que o não esqueçamos-Baptista Bastos
Para que o não esqueçamos
25 Fevereiro2011 | 11:38
Baptista Bastos - b.bastos@netcabo.pt
|
|
Baptista
Bastos |
ARTIGOS DESTE AUTOR
Zeca Afonso morreu há 24 anos [23 de Fevereiro de 1987], com
uma doença atroz: esclerose lateral amiotrófica.
Tinha 57 anos e manteve, até ao remate dos dias, aquele
sorriso meio-cândido, meio-malicioso, que lhe conferia o ar de menino de
sempre. Pouco tempo antes conversámos numa leitaria à entrada das Escadinhas do
Duque, das duas ou três tertúlias da zona a que chamávamos o Triângulo das
Bermudas. Não era um local de perdição, ao contrário do que a alcunha pode
querer dizer. Mas os encontros poderiam levar-nos pela noite adiante.Os mesários dessas reuniões eram, entre muito outros, fixantes e passantes, Herberto Hélder, António José Forte, António Carmo, Aldina Costa, José Carlos González, Ricarte-Dácio de Sousa, Adriano de Carvalho, Serafim Ferreira, Teresa Roby, Luiz Pacheco, os actores Fernando Gusmão e António Assunção, e por aí fora. Olho para trás e reconheço que esses encontros são irrepetíveis, não só porque a morte já fez a sua ceifa como pelo facto de a atmosfera moral e afectuosa ser, agora, muito diferente.
Frequentei aqueles grupos durante anos. O "Diário Popular" era ali perto e dava-me jeito ir à bebida e à conversa com amigos, alguns dos quais (o Herberto, por exemplo) vinham dos bulícios da adolescência. O Zeca Afonso não era habitual; mas, naquele fim de tarde, sentou-se para conversar sonhos e esperanças tão antigos como o homem. "Estou a morrer devagarinho", disse-me. E a voz era como se viesse do fundo do corpo. A frase impressionou-me pela coragem. Ele sabia que estava condenado e talvez quisesse dizer-me que o sabia. Falou, logo a seguir, de outras coisas. Olhava para este homem novo, atingido por uma doença medonha, e recordava a generosidade limpa e aberta de alguém que dera tudo a todos e oferecera à Revolução o seu hino definitivo.
O Viriato Teles, grande jornalista que os senhores dos jornais têm laminado mas não destruído, escreveu, sobre o amigo e companheiro, páginas definitivas, e conhece, como ninguém, a dimensão da grandeza de uma pessoa rara. Mas o País ainda não homenageou o poeta admirável e o cantor de palavras claras que esteve sempre com as causas justas, as batalhas necessárias e as urgências que a História exigia. Melhor do que nós, fazem-no os galegos, para os quais José Afonso é um marco e um símbolo da dignidade e da probidade humanas.
Os textos de "intervenção" que escreveu pertencem à mais rigorosa selecta da lírica portuguesa.
Provêm, directamente, das fontes medievais e da tradição de combate e crítica da grande poesia. Zeca Afonso não facilitava a interpretação dos seus poemas. A diversidade de leituras que propõem sugeriu muitos estudos no estrangeiro e o respeito de duas ou três gerações que ele distinguiu com a lição de um desprendimento total.
Comparar a obra do poeta às "cançonetas" "dos" Deolinda, como por aí se tenta, é um ultraje e uma demonstrada ignorância. Mas estas comparações não são ingénuas. Fazem parte do arsenal de apoucamento do Zeca, que um sector da vida portuguesa deseja, há muito promover. É desnecessário. A força, a qualidade do imenso trabalho criador do autor de "Traz outro amigo também" não sofre paralelismo com outro qualquer. O que não passa de uma funçanata divertida e trôpega dificilmente poderá ser levada a sério e entendida como "intervenção social e ideológica." As comparações são propositadamente estabelecidas (inclusive por alguma Imprensa desprezível) para fomentar a confusão e enganar tolos. A estratégia não é nova. Ainda há quem não perdoe a Zeca Afonso a magnitude do seu talento e o cariz de uma arte que sempre recusou o panfleto sem desprezar a intenção de revolta.
No dia 23 de Fevereiro completaram-se 24 anos sobre a data da morte de um grande poeta português. É muito bom que, sob outras roupagens, a sua música e as suas palavras sejam cantadas pelo pessoal mais novo e ouvidas por todos aqueles que possuem da arte um conceito diferente porque superior. Quanto a mim, que fui amigo deste português incomum, deste artista sem paralelo, recordo-o com emoção, encantamento e orgulho. Ele faz parte do nosso comum património moral, ética e estético.
b.bastos@netcabo.pt