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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ALERTA



os meus versos grito alerta

para ver se acordo o povo

mas não são a minha meta

minha esperança é um mundo novo.



Os meus versos são um grito

que me sai do coração

porque eu creio, eu acredito

nos que nos fazem o grão.



Ó Portugal minha gente

és minha oração de fé

seguirei contigo em frente

se morrer morro de pé.



Nós não queremos a vida

para ver tombar os mais

a vida não é vencida

os povos são imortais!


Marília Gonçalves

25 de ABRIL de 1974 SEMPRE


Amigos(as), Companheiros(as), Camaradas

Cumprir Abril é ser Abril pra sempre
é ser mais que palavra sementeira
onde se cumpre amor se inscreve grava
uma história nossa companheira

onde cada página é um grito
de Luz,beleza Universal
onde o povo se grita
é porque digno
sabe que em si se escreve
Portugal

cumprir Abril é ser do mundo inteiro
aqui à nossa porta paraíso
onde cada palavra é um canteiro
a reflorir sempre que é preciso

cumprir Abril é ser mais do que somos
 sangue natural que nos circula
é não ter medo do que um dia fomos

erguermo-nos em Povo altivo e forte
que não se deixa nunca espezinhar
e quem nome da vida enfrenta a morte
com sementeiras de luz no seu olhar!

Marília Gonçalves

José Saramago - FALSA DEMOCRACIA



ESCUTEM ATENTAMENTE as Grandes Verdades aqui Proferidas

Jornal de Campanha de Francisco Lopes

Jornal de Campanha - Presidenciais 2011 - 9ª Edição
Jornal de Campanha - Presidenciais 2011 - 9ª Edição"
A nona edição do jornal de campanha dedica o dia ao 

Litoral Alentejano. Sines, Grândola, Alcácer do Sal foram as cidades por onde passou o candidato, culminando num jantar com apoiantes em Santiago do Cacém. Nesta edição, a entrevista com o Secretário-Geral do PCP, Jerónimo de Sousa.


                  
POEMA DO AUTOCARRO

Quantos biliões de homens! Quantos gritos
de pânico terror!
Quantos ventres aflitos!
Quantos milhões de litros
do movediço amor!
Quantos!
Quantas revoluções na cósmica viagem!
Quantos deuses erguidos! Quantos ídolos de barro!
Quantos!
até eu estar aqui nesta paragem
à espera do autocarro.
E aqui estou, realmente.
Aqui estou encharcado em sangue de inocente,
no sangue dos homens que matei,
no sangue dos impérios que fiz e que desfiz,
no sangue do que sei e que não sei,
no sangue do que quis e que não quis.
Sangue.
Sangue.
Sangue.
Sangue.
Amanhã, talvez nesta paragem de autocarro,
numa hora qualquer, H ou F ou G,
uns homens hão-de vir cheios de medo e sede
e me hão-de fuzilar aqui contra a parede,
e eu nem sequer perguntarei porquê.
Mas...
Não há mas.
Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.
Mas eu só faço o bem, eu só desejo o bem,
o bem universal,
sem distinguir ninguém.
Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.
Eles virão e eu morrerei sem lhes pedir socorro
e sem lhes perguntar porque maltratam.
Eu sei porque é que morro.
Eles é que não sabem porque matam.
Eles são pedras roladas no caos,
são ecos longínquos num búzio de sons.
Os homens nascem maus.
Nós é que havemos de fazê-los bons.
Procuro um rosto neste pequeno mundo do autocarro,
um rosto onde possa descansar os olhos olhando,
um rosto como um gesto suspenso
que me estivesse esperando.
Mas o rosto não existe. Existem caras,
caras triunfantes de vícios,
soberbamente ignaras
com desvergonhas dissimuladas nos interstícios.
O rosto não existe.
Procura-o.
Não existe.
Procura-o.
Procura-o como a garganta do emparedado
procura o ar;
como os dedos do afogado
buscam a tábua para se agarrar.
Não existe.
Vês aquele par sentado além ao fundo?
Vês?
Alheio a tudo quanto vai pelo mundo,
simboliza o amor.
Podia o céu ruir e a terra abrir-se,
uma chuva de lodo e sangue arrasar tudo
que eles continuariam a sorrir-se.
Não crês no amor?
Não ouves?
Não crês no amor?
Cala-te, estupor.
Tenho vergonha de existir.
Vergonha de aqui estar simplesmente pensando,
colaborando
sem resistir.
Disso, e do resto.
Vergonha de sorrir para quem detesto,
de responder pois é
quando não é.
Vergonha de me ofenderem,
vergonha de me explorarem,
vergonha de me enganarem,
de me comprarem,
de me venderem.
Homens que nunca vi anseiam por resolver o meu problema concreto.
Oferecem-me automóveis, frigoríficos, aparelhos de televisão.
É só estender a mão
e aceitar o prospecto.
A vida é bela. Eu é que devia ser banido,
expulso da sociedade para que a não prejudique.
Hã?
Ah! Desculpe. Estava distraído.
Um de quinze tostões. Campo de Ourique.
 
António Gedeão, Máquina de Fogo, 1961