Páginas

Páginas

Páginas

Páginas

sábado, 16 de janeiro de 2010

A pátria é nos lugares onde a alma está acorrentada.
Voltaire

Foto Sainte Mesme
Quando a noite é promissora
pode amanhecer ABRIL!!!
Marília

Poema de JAIME CORTESÃO





A Poesia e a Resistência ao fascismo/salazarismo

Maldição
Poema de JAIME CORTESÃO

Maldição


Por ti, pelo teu ódio à Liberdade
à Razão e à verdade,
a tudo o que é viril, humano e moço,
a fome e o luto apagaram os lares
e os homens agonizam aos milhares
no exílio, no hospital, no calabouço.


Por ti raivoso abutre
cujo apetite sôfrego se nutre
de lágrimas, de gritos, de aflições
gemem nas aspas da tortura
ou baixam em segredo à sepultura
os màrtires que atiras às prisões.

A este claro povo, herói dos povos,
que deu ao Mundo mundos novos,
mais estrelas ao céu, mais luz ao dia;
a este livre e luminoso Apolo
atas as mãos, os pés e o colo,
e encerras numa lôbrega enxovia.

Falas do céu, como um doutor no templo
mas tu encarnaçao e vivo exemplo
da hipocrisia vil dos fariseus,
pelos sagrados laços que desunes,
pelos teus crimes, até hoje impunes
roubas ao mesmo crente a fé em Deus.

Passas...e mirra a erva nos caminhos,
as aves, com terror, fogem aos ninhos,
e ao ver-te o vulto gélido e felino,
mulheres e mães, lembrando os lastimosos
casos de irmãos, de filhos ou de esposos,
bradam crispadas as mãos: Assassino! Assassino!

Passas... e até os velhos, cujos anos
têm costumado a monstros e tiranos
dizem, com a boca cheia de ira e asco:
-Sobre esta Pátria mísera que oprimes,
jamais alguém foi réu de tantos crimes.
vai-te! Basta de vítimas!. Carrasco!

Passas... e ergue-se, vai de vale a cerro
dos hospitais, do fundo das masmorras
às inospitas plagas do desterro,
um coro de ais, de imprecações, de morras.

São multidões que rugem num só brado:
- Maldita a hora em que tu foste nado!
-Que se malogre tudo quanto almejas;
-Conturbem-se os teus dias de aflição,
neguem-te as fontes água, a terra pão
e as estrelas luz -Maldito sejas.


Poema que eu dizia em Paris com 16/17 anos


25 de Abril de 1974 - Um porquê do POVO...


A pátria é nos lugares onde a alma está acorrentada.
Voltaire





ALGUNS POEMAS AUTOBIOGRÁFICOS

O REGRESSO DO MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar

Na noite de breu ergueu-se a voar.


FERNANDO PESSOA, Mensagem




O mostrengo não está no fim do mar.

Ocupa as ruas, bate à nossa porta,

vomita chamas na cidade morta,

escreve garatujas no luar.



Ei-lo que espreita em cada patamar

pronto a saltar-nos à garganta. Importa

lançar brados de alerta à malta absorta

que se deixou nos ventos embalar.



De pé! O monstro volta! Unir fileiras!

Deixemos as diferenças das bandeiras:

É preciso avançar em marcha unida.



A nossa força é sermos um só povo

e uma só terra a defender de novo.

A morte do mostrengo é a nossa vida!



Carlos Domingos