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sábado, 17 de abril de 2010

A TERNURA





Anda-me o vento nos beirais

É noite, avança a madrugada

E eu choro de saudade de meus pais

Da minha breve infância magoada.

Adeja a neve, sem Augusto Gil

A pesar ainda na lembrança

Dessa voz insurrecta e infantil

a declamar num grito pela criança.

Pudera adivinhar... mas antes não...

Foi mais feliz a inocência

Que esse clamor do coração

Abrangia toda a minha essência.

O sofrimento seria o quinhão

Que acolheria minha candura

Espelhando pra sempre em minha mão

Uma indelével fome de ternura.


Marília Gonçalves




Poeta que nome dar-te

Poeta que nome dar-te

Que melhor diga quem és

Nome de voo, de vaga

Nome de tantas marés

De tantos aluviões

De tanto riso perdido

Catadupa d’emoções

Sempre em combate renhido

Poeta, de tanta queda

De tanta ressurreição

Que escreves em linha recta

A tua contradição

Poeta de sempre sonhos

De mundos por levantar

De dois abismos risonhos

Desaguando em teu olhar

Poeta de tanta estrela

ou de noites de luar

Quando a palavra, aguarela

Te leva de mar em mar

Poeta que nome análogo

Posso chamar-te completo

Se conheces o diálogo

Que há na fundura do verbo

Se te vejo esbracejar

Contra o fantasma da forma

Conservando no olhar

O desrespeito da norma

Queria fazer-te justiça

Dar-te uma palavra exacta

Pra definir a preguiça

Na aridez que te mata

Dizer que tens da cigarra

O incessante labor

De transformar em guitarra

Cada pérola de suor

Por isso não sei que nome

Te dê maior que poeta

A ti que escreves amor

Na sua forma completa


Marília Gonçalves

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