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sexta-feira, 16 de abril de 2010

POEMA: Rui Mendes

ARTE : António Ferraz


Ao António Ferraz

Escrevo depois da morte concêntrica

na fusão afundada da linha do horizonte

ouço o sangue vivo através dos subterrâneos

debaixo dos pés até à caverna dos dentes

fechou-se a terra e os lábios estelares abriram


agora na voz escrita rubra sombra das palavras

ninguém pode cobrir-se de névoa ou frio

tão-pouco o grito das sementes galácticas

encontrará no mármore o oráculo do sonho


volátil a agonia vê a vulva na ostra de bronze

câmaras fumegantes os mísseis arrefeciam

em cicuta estelar pelo cerne curvo da carne

espargiam ossos plasmáticos e o ar ligava

o céu ultravioleta à boca do instante


ogivas nucleares dessoldavam serpentes

e os áugures mostrando a pele lancinante

imolavam no patíbulo de um zeus cativo

maxilas pleuras palatos e lenhos eram levados

para o fundo das águas pela via láctea


pendular espasmo despenhado da manhã

sentíamos que uma orla caída do espaço

abrigava o púnico pano radial das bandeiras

memória inominável alguém ia dizendo

não te deixes morrer na luz dos meus olhos


mãos consteladas a árvore do fundo não ardia





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