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quinta-feira, 4 de junho de 2009





[Prémio Camões – ler aqui e ouvir aqui]


ARMÉNIO VIEIRA


LISBOA - 1971

A Ovídio Martins e Osvaldo Osório



Em verdade Lisboa não estava ali para nos saudar.

Eis-nos enfim transidos e quase perdidos
no meio de guardas e aviões da Portela.

Em verdade éramos o gado mais pobre
d'África trazido àquele lugar
e como folhas varridas pela vassoura do vento
nossos paramentos de presunção e de casta.

E quando mais tarde surpreendemos o espanto
da mulher que vendia maçãs
e queria saber d'onde… ao que vínhamos
descobrimos o logro a circular no coração do Império.

Porém o desencanto, que desce ao peito
e trepa a montanha,
necessita da levedura que o tempo fornece.

E num camião, por entre caixotes e resquícios da véspera,
fomos seguindo nosso destino
naquela manhã friorenta e molhada por chuviscos d'inverno.

(de Poesia Um – 1971-1974, in Poemas, Ilhéu editora, 1998)



SER TIGRE


O tigre ignora a liberdade do salto,
É como se uma mola
O compelisse a saltar

O tigre não ama.
Ele busca a fêmea
Como quem procura comida.

Sem tempo na alma,
É no presente
Que o tigre existe.

Entre o cio e a cópula.
Nenhuma voz lhe fala de Deus,
O tigre não morre, dorme e passa.

(de Poesia Três – Após 1981, in Poemas, Ilhéu editora, 1998)



Graças dou por Luís Vaz,
Ele-Mesmo, varão audaz,
como Ulisses, natatório,
ululado por ciclópicos
bêbedos canibais.

Mas quem pode afogar
tal homem, decepar suas mãos,
liquefazer seu poema?

Se é verdade que o Novo Reino
sucumbiu à foice com que Deus
decepa a espiga ruim, também é certo
que a partir de um bla-bla ruidoso
com que Viriato, mais que a funda,
espantava os filhos de Eneias,
Luís Vaz, pegando nele, criou o poema
e a pátria que deveras conta.



ANTIPOEMA

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.
Como assim, meu caro Drummond,
se o que se segue ao sémen
são as sobras de uma laranja
cortada em dois, sendo que
uma das metades é apenas casca
lembrando a pele que as múmias
costumam ter, enquanto a parte
que teima em ficar redonda
é só a metade de uma geometria
que já foi doçura e polpa,
agora acre e assassina mais que a faca,
ao lado da qual jaz, definitivamente torpe,
já que as próprias moscas, apavoradas, fogem.



EXCENTRICIDADES GREGAS

Zenão rejeitava o óbvio
- entre o arqueiro e o alvo
o percurso da flecha é infindável,
de forma que o célere Aquiles
nunca apanha a tartaruga.

Platão era o oposto, afirmava
o improvável - a Ilíada, por
exemplo, era um mero duplicado
de um original escrito por um poeta
anterior ao nascimento
das estrelas, cujos símbolos
são a Esfera, a Luz e a Palavra.

Pitágoras era de opinião
que os números pares são demoníacos,
razão por que o três é melhor
que o seis, o cinco preferível
ao quatro e assim sucessivamente.
Nunca se deve comer feijões.
Quem o fizer corta o fio das
reincarnações, de sorte que a alma
fica prisioneira num eterno triângulo,
ou seja, entre dois catetos
e uma hipotenusa guardados por um dragão
de mil olhos e três línguas de fogo.



MALAE TENEBRAE

Never more! crocitava
o corvo Poe
aspergindo gordura
fervente e fétida
sobre os defuntos
que o chifrudo rei
dos pés-juntos
se aprestava
para transportar
ao reino onde as maçãs
nascem já podres
e os escorpiões
jamais param de crescer
para o tormento
das almas.

(de MITOgrafias, Ilhéu editora, 2006)


Workshop "PINTAR A MÚSICA"

Performance de Pintura e Música ao vivo

Domingo, 7 de Junho 2009 - 11 horas

na Sociedade Filarmónica Humanitária - Palmela

Inscrições Limitadas

Introdução

“Vamos comunicar através da Arte” . A comunicação é o tema desta performance que tem como base a importância da educação artística na formação psiquica e social do individuo enquanto ser criativo. O entrusamento das várias linguagens artísticas tem como objectivo desenvolver na criança e no adolescente e nas famílias a capacidade de harmonizar e dar sentido aos seus sentidos.



Sinopse

Composição em tempo real de uma Pintura colectiva em grandes dimensões, apoderando-se das imagens conseguidas pela sombra chinesa e da música original improvidada. É um momento artístico de grande criação e de grandes emoções. A espontaneidade da arte, o seu aspecto lúdico e a pura criatividade, brota nesta acção de linguagem artística, expressões emocionais, para que se possa reflectir sobre os afectos e a liberdade criadora.



Objectivo

Articular a técnica da sombra chinesa com outras Áreas de expressão como as Artes Plásticas e a Música, valorizando a importância da actividade lúdica como forma de exploração de novas maneiras de expressão e comunicação aprendizagem e desenvolvimento.



Estratégias e Metodologias

-Pequenas histórias sobre as expressões artísticas

-Breve enquadramento teórico sobre a história da Performance.

-Projecção de “Pinturas Musicais”

-Realização de jogos e actividades de expressão plástica e de expressão musical.

-Exploração das potencialidades do material disponível.

-Experiências com a forma, textura, dimensão, movimento, transparência, cor, som.

- Criação de Espaço de Improvisação

-Composição em Tempo Real



Direcção artística

São Nunes e José Soares



Inscrições

€ 6 por participante. Inscriç
ão na secretaria do Conservartório Regional de Palmela.



Contactos

Conservatório Regional de Palmela – Av. Dr. Godinho de Matos Palmela

Tel.: 212350235



Organização

Conservatório Regional de Palmela | Sociedade Filarmónica Humanitária



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